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22 de fev. de 2014

Criança lendo de Walter Benjamim

                                                                                                                                                                                                  Bruegel


Da biblioteca da escola recebe-se um livro. Nas classes inferiores é feita uma distribuição. Só uma vez e outra ousa-se um desejo. Muitas vezes vêem-se livros cobiçosamente desejados chegar a outras mãos. Por fim, recebia-se o seu. Por uma semana estava-se inteiramente entregue ao enredo do texto, que envolvia branda e secretamente, densa e incessantemente como flocos de neve. Dentro dele se entrava com confiança sem limites. Quietude do livro que seduzia mais e mais! Cujo conteúdo nem era tão importante. Pois a leitura caía ainda no tempo em que se inventavam histórias para si próprio na cama. Seus caminhos semi-encobertos de neve a criança rastreia. Ao ler, ela mantém as orelhas tapadas; seu livro fica sobre a mesa alta demais e uma das mãos fica sempre pousada sobre a folha. Para ela as aventuras do herói são legíveis ainda no redemoinho das letras como figura e mensagem no rodopiar dos flocos. Sua respiração está no ar dos acontecimentos e todas as figuras lhe sopram. Ela está misturada entre as personagens muito mais de perto do que o adulto. É indizivelmente concernida pelo acontecer e pelas palavras trocadas e, quando se levanta, está totalmente coberta pela neve do lido.
BENJAMIN, W. Obras Escolhidas II - Rua de mão única. p.37.

19 de mar. de 2013

Pequenos martelinhos de Walter Benjamin

"Encyclopédie" de Diderot, gravura em metal, 1760

Achar palavras para aquilo que se tem diante dos olhos - quão difícil pode ser  isso! Porém quando elas chegam, batem contra o real com pequenos martelinhos até que, como de uma chapa de cobre, dele tenham  extraído a imagem. BENJAMIN, W. Obras Escolhidas II - Rua de Mão Única. p.203.