Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
4 de mar. de 2007
Distribuição da Poesia - Jorge de Lima
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Escutai, meus irmãos: poesia tirei de tudo
para oferecer ao Senhor.
Não tirei ouro da terra
nem sangue de meus irmãos.
Estalajadeiros não me incomodeis.
Bufarinheiros e banqueiros
sei fabricar distâncias
para vos recuar.
A vida está malograda,
creio nas mágicas de Deus.
Os galos não cantam,
a manhã não raiou.
Vi os navios irem e voltarem.
Vi os infelizes irem e voltarem.
Vi homens obesos dentro do fogo.
Vi ziguezagues na escuridão.
Capitão-mor, onde é o Congo?
Onde é a Ilha de São Brandão?
Capitão-mor que noite escura!
Uivam molossos na escuridão.
Ó indesejáveis, qual o país,
qual o país que desejais?
Mel silvestre tirei das plantas,
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Só tenho poesia para vos dar.
Abancai-vos, meus irmãos
Fala :: ORIDES FONTELA ( São João da Boa Vista (SP), em 24 de abril de 1940, e faleceu num sanatório de Campos do Jordão (SP), em 2 de novembro de 1998 )
Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.
Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.
Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.
Não há piedade nos signos
e nem o amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.
(Toda palavra é crueldade.)
De Transpiração, 1969
2 de mar. de 2007
1 de mar. de 2007
Minhas águas :: Silvana Conterno
As vezes comporto
me faço represa
nem sempre consigo
conter minhas águas
Me escapam desejos
que seguem caminhos
contornam obstáculos
inundam planícies
e regiões habitadas
então me recolho
fazendo o rescaldo
salvando entre pertences
a identidade avariada
me faço represa
nem sempre consigo
conter minhas águas
Me escapam desejos
que seguem caminhos
contornam obstáculos
inundam planícies
e regiões habitadas
então me recolho
fazendo o rescaldo
salvando entre pertences
a identidade avariada
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