18 de out. de 2009

Questão de pontuação de João Cabral de Melo Neto


Todo mundo aceita que ao homem

cabe pontuar a própria vida:

que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca);

viva em ponto de interrogação

(foi filosofia, ora é poesia);

viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política):

o homem só não aceita do homem

que use a só pontuação fatal:

que use, na frase que ele vive
o inevitável ponto final.

4 de out. de 2009

Chagall - Dança


Mandamentos de Fernando Pessoa


1. Não tenhas opiniões firmes, nem creias demasiadamente no valor de tuas opiniões.
2. Sê tolerante, porque não tens a certeza de nada.
3. Não julgues ninguém, porque não vês os motivos, mas só os actos...
4. Espera o melhor e prepara-te para o pior.
5. Não mates nem estragues, porque, como não sabes o que é a vida, excepto que é um mistério, não sabes que fazes matando ou estragando, nem que forças desencadeias sobre ti mesmo se estragares ou matares.
6. Não queiras reformar nada, porque, como não sabes a que leis as coisas obedecem, não sabes se as leis naturais estão de acordo, ou com a justiça, ou, pelo menos, com a nossa ideia de justiça.
7. Faz por agir como os outros e pensar diferentemente deles. Não cuides que há relação entre agir e pensar. Há oposição. Os maiores homens de acção têm sido perfeitos animais na inteligência. Os mais ousados pensadores têm sido incapazes de um gesto ousado ou de um passo fora do passeio.
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990

Imperfeita

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

"Júbilo, memória, noviciado da paixão" , de Hilda Hilst

20 de set. de 2009

Sonhos da razão

El hombre moderno tiene la pretensión de pensar despierto. Pero este despierto pensamiento nos ha llevado por los corredores de una sinuosa pesadilla, en donde lo espejos de la razón multiplican la cámaras de tortura. Al salir, acaso, descubriremos que habíamos soñado com los ojos abiertos y que los sueños de la razón son atroces. Quizá, entonces, empezamos a soñar outra vez com los ojos cerrados.
PAZ, Octavio. El Laberinto de la Soledad.  p. 191.

A arte de abandonar


foto: Clarice Lispector
Saber desistir. Abandonar ou não abandonar — esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está lon­ge de ser rara a situação angustiosa em que devo de­cidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei capaz de abandonar nobremente? ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça al­guma coisa? como, digamos, o próprio fim do mundo? ou seja lá o que for, como a minha morte súbita, hi­pótese que tornaria supérflua a minha desistência?
Clarice Lispector In: Um sopro de vida

13 de set. de 2009

Sonhos


Há sonhos que devem ser ressonhados, projetos que não podem ser esquecidos..."
"Estar sendo. Ter sido"  de Hilda Hilst

16 de ago. de 2009

Paisley






 Gombad Mosque (ano 800–900; Balkh, Afeganistão)

O motivo paisley estiliza o símbolo da  árvore da vida, num sentido amplo de  vida e eternidade. Existem muitas teorias sobre o motivo boteh, que conhecemos como paisley (chamado Amb, Buteh ou Buta em várias línguas). O padrão pode ser rastreado até a antiga Babilônia onde a forma de gota foi usada como símbolo para representar o crescimento do broto de uma palmeira, talvez a tamareira. Desta palmeira fazia-se comida, bebida, vestuário (fibras de tecido) e lugares para abrigo, considerada assim a "Árvore da Vida", foi gradualmente reconhecida como um símbolo de fertilidade.
Boteh é a palavra persa usada para descrever a flor em botão ou folha de palmeira sendo que na tapeçaria persa este motivo é freqüentemente encontrado em grupo ou isoladamente em intrincados desenhos. O motivo é  interpretado de várias formas: chamas, gotas de lágrima, o fruto da pinha, a pera e também o cipreste. Muito comum na região de Caxemira (Índia) em lenços e xales foi copiado pelos ingleses e reproduzido em tecelagens da cidade de Paisley (Escócia) ficando conhecido então por este nome.
O paisley foi símbolo do movimento hippie, especialmente da contracultura, apropriado talvez pela  conotação sofisticada dada pelos aristocratas britânicos onde era usado em gravatas, camisas e vestidos de seda, além dos xales de caxemira. 

26 de jul. de 2009

Domingo


foto: Caminho de Santiago 

E todo o mel dos domingos se tire;
o diamante dos sábados, a rosa
de terça, a luz de quinta, a mágica
de horas matinais, que nós mesmos elegemos
para nossa pessoal despesa, essa parte secreta
de cada um de nós, no tempo.

Os últimos dias. Drummond

5 de jul. de 2009

Paisagem N.º 1



Minha Londres das neblinas finas!
Pleno verão. Os dez mil milhões de rosas paulistanas.
Há neve de perfumes no ar.
Faz frio, muito frio...
E a ironia das pernas das costureirinhas
parecidas com bailarinas...
O vento é como uma navalha
nas mãos dum espanhol. Arlequinal!...
Há duas horas queimou Sol.
Daqui a duas horas queima Sol.

Passa um São Bobo, cantando, sob os plátanos,
um tralálá... A guarda-cívica! Prisão!
Necessidade a prisão
para que haja civilização?
Meu coração sente-se muito triste...
Enquanto o cinzento das ruas arrepiadas
dialoga um lamento com o vento...

Meu coração sente-se muito alegre!
Este friozinho arrebitado
dá uma vontade de sorrir!

E sigo. E vou sentindo,
à inquieta alacridade da invernia,
como um gosto de lágrimas na boca...


Mário de Andrade

28 de jun. de 2009

Da Mafalda

"¿Qué importan los años? 


Lo que realmente importa es comprobar que al fin de cuentas 
la mejor edad de la vida es estar vivo"



Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...