10 de ago. de 2012

Quero ser seu significado de Orhan Pamuk

imagem: arte persa - Século XV

Eu não quero ser uma árvore; Eu quero ser seu significado." 
―Orhan Pamuk, meu nome é vermelho

9 de ago. de 2012

Infância de Carlos Drummond de Andrade

Drummond aos 2 anos 

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

Macrame , migramah: arte de dar nós



Macramé é uma técnica de tecer fios que não utiliza nenhum tipo de maquinaria ou ferramenta. É uma forma de tecelagem manual. Trabalhando com os dedos, os fios vão se cruzando e ficam presos por nós, formando cruzamentos geométricos, franjas e uma infinidade de formas decorativas. O macramé tem duas formas mais conhecidas de trançado: o ponto "festonê" e o ponto "nó duplo", no primeiro dois fios são usados um esticado e o outro enlaça formando nós, no segundo três fios são usados um esticado no meio e os outros dois enlaçam formando nós.
A palavra macramé significa "nó". Há versões que dizem que a palavra vem do árabe, outras do turco, outras ainda do francês. Mais provavel é a origem do árabe migramah, que significa franja ornamental. Com a conquista da Península Ibérica, a técnica foi introduzida na Espanha e depois por toda a Europa. É uma arte que se originou na pré-história, quando o homem aprendeu a amarrar fibras para se agasalhar e criar objectos. Foi difundida no mundo por marinheiros que utilizavam a técnica para criar objetos marítimos que permutavam nos locais onde desembarcavam.
Até hoje a arte de dar nós é muito apreciada pela habilidade do artesão e delicadeza do trabalho.
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Macram%C3%A9

8 de ago. de 2012

Cupido: cuspido, escarrado, de Estrela Ruiz Leminski


Os anos e os dias vão mudando
como as páginas do diário
Ou muda o número de páginas
ou mudam as paixões
Cada ano eu preciso
comprar um dicionário 
Só pra entender as minhas anotações

7 de ago. de 2012

Vilhelm Hammershøi (Copenhague1864 – Copenhague 1916)










Vilhelm Hammershøi (n. en Copenhague el 15 de mayo de 1864 – f. en Copenhague el 13 de febrero de 1916). Trabajó sobre todo en su ciudad natal, realizando retratos, paisajes y especialmente una serie de interiores por los que se hizo muy conocido.

Idioma Plural de Mia Couto




O que advogo é um homem plural, munido de um idioma plural. Ao lado de uma língua que nos faça ser mundo, deve coexistir uma outra que nos faça sair do mundo. De um lado, um idioma que nos crie raiz e lugar. De outro, um idioma que nos faça ser asa e viagem.
Para “ser asa e viagem” é preciso acolher todos os outros de si. Não tolerar o outro, mas ser o outro.
Mia Couto, na Conferência Internacional de Literatura, em Estocolmo, na Suécia.
fonte: http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/01/lingua-que-somos-lingua-que-podemos-ser.html

6 de ago. de 2012

Ipê- Rosa







Coisas que não há que há de Manuel António Pina


"Uma coisa que me põe triste é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)

Há tantas coisas bonitas que não há: 
coisas que não há, 
gente que não há, 
bichos que já houve e já não há, 
livros por ler, 
coisas por ver, 
feitos desfeitos, outros feitos por fazer, 
pessoas tão boas ainda por nascer e outras que morreram há tanto tempo! 

Tantas lembranças de que não me lembro, 
sítios que não sei, 
invenções que não invento, 
gente de vidro e de vento, 
países por achar, paisagens, 
plantas, 
jardins de ar, 
tudo o que eu nem posso imaginar porque se o imaginasse já existia 
embora num sítio onde só eu ia..."


5 de ago. de 2012

Quem somos nós de Ítalo Calvino

imagem: Hyuro 
Quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilo, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis. 
Ítalo Calvino In: Seis propostas para o próximo milênio.

4 de ago. de 2012

A Hora de Estrela Leminski


“Amo o que foi 
e já não é a dor 
que não me dói” 
“De agora em diante 
só o durante dura”

“Já ouvi doze vezes 
dar a hora
Num relógio que diz 
que é meio dia”

Dentro do tempo 
há o agora
E a vida preserva

3 de ago. de 2012

Rayuela de Julio Cortázar

Frank Lloyd Wrigh
Amor mío, no te quiero por vos ni por mí ni por los dos juntos, no te quiero porque la sangre me llame a quererte, te quiero porque no sos mía, porque estás del otro lado, ahí donde me invitás a saltar y no puedo dar el salto, porque en lo más profundo de la posesión no estás en mí, no te alcanzo, no paso de tu cuerpo, de tu risa, hay horas en que me atormenta que me ames (cómo te gusta usar el verbo amar, con qué cursilería lo vas dejando caer sobre los platos y las sábanas y los autobuses), me atormenta tu amor que no me sirve de puente porque un puente no se sostiene de un solo lado, jamás Wright ni Le Corbusier van a hacer un puente sostenido de un solo lado, y no me mires con esos ojos de pájaro, para vos la operación del amor es tan sencilla, te curarás antes que yo y eso que me querés como yo no te quiero. Claro que te curarás, porque vivís en la salud, después de mí será cualquier otro, eso se cambia como los corpiños.
 In: Rayuela, de Julio Cortázar

2 de ago. de 2012

Jardim Majorelle em Marraquexe, Marrocos














O Jardim Majorelle é o jardim botânico de Marraquexe. Foi projetado pelo artista francês Jacques Majorelle e 1924, durante o período em que o Marrocos era protetorado francês.

Soneto acompanhado de Glauco Mattoso



Bassês não são eternos, nem são nossa
melhor ou mais completa companhia... 
mas unem gênio, graça e raça à esguia 
salsicha, à pata torta, curta e grossa. 

Do Chicho, meu bassê, não há quem possa
dizer que outro mais fofo e vivo havia. 
Dá dó seu triste olhar, que o meu copia. 
Tem charme e classe até quando se coça. 

Depois dalgum convívio, conversamos
na mesma língua, e a bom entendedor 
bastava um "au", sem teimas nem reclamos. 

Sabia estar nos olhos minha dor,
e sei que os dois estávamos e estamos
no mesmo barco, e irei pronde ele for.

de: Animalesca escolha, de Glauco Mattoso

1 de ago. de 2012

Você Tem Açúcar - Ana Salvagni


Você tem açúcar na voz, no olhar

A vida é mais doce lhe ouvindo falar

Amando você, o amor não tem fel

A gente só pensa na lua-de-mel

Você tem açúcar no seu coração

Você é o engenho, minha Usina de Bangüê

Meu pé-de-moleque, meu doce de coco

Que gosto gostoso que eu sinto em você

Seu beijo é receita de um bolo caseiro

Que dá apetite até pelo cheiro

A fome não mata, mas tira a vontade

De, um dia, outro beijo o matuto provar

Você é reclame de confeitaria

Bombonzinho, casadinho

Se um dia você me deixar

Minha vida vai ser de amargar


canção de Roberto Martins e Osvaldo Santiago 
http://www.anasalvagni.com.br/tudo_cds.htm

31 de jul. de 2012

Viver de Anna Akhmátova



Aprendi a viver com simplicidade, com juízo,

a olhar o céu, a fazer minhas orações,

a passear sozinha até a noite,

até ter esgotado esta angústia inútil.

Enquanto no penhasco murmuram as bardanas

e declina o alaranjado cacho da sorveira,

componho versos bem alegres

sobre a vida caduca, caduca e belíssima.

Volto para casa. Vem lamber a minha mão

o gato peludo, que ronrona docemente,

e um fogo resplandecente brilha

no topo da serraria, à beira do lago.

Só de vez em quando o silêncio é interrompido

pelo grito da cegonha pousando no telhado.

Se vieres bater à minha porta,

é bem possível que eu sequer te ouça.


Tradução de Lauro Machado Coelho

Lavanda ou Alfazema





30 de jul. de 2012

Del amor con cien años de Federico Garcia Lorca


VITTORIO PIERGIOVANNI

Suben por la calle 
los cuatro galanes, 
ay, ay, ay, ay. 
Por la calle abajo 
van los tres galanes, 
ay, ay, ay. 
Se ciñen el talle 
esos dos galanes, 
ay, ay. 
¡Cómo vuelve el rostro 
un galán y el aire! 
Ay. 
Por los arrayanes 
se pasea nadie.

29 de jul. de 2012

Aqui estou de Pablo Neruda

Isla Negra


Limpo é o dia lavado pela areia
branca, e gelada no mar roda a espuma,
e nesta desmedida solidão
sustenta-se a luz do meu livre-arbítrio.

Mas este mundo não é o que eu quero.

In "Memorial de Isla Negra". Brasil: L&Pm, 2007

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...