Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
11 de fev. de 2014
O que a musa eterna canta de Adélia Prado
Fernando Pessoa
Cesse de uma vez meu vão desejo
de que o poema sirva a todas as fomes.
Um jogador de futebol chegou mesmo a declarar:
“Tenho birra de que me chamem de intelectual,
sou um homem como todos os outros.”
Ah, que sabedoria, como todos os outros,
a quem bastou descobrir:
letras eu quero é pra pedir emprego,
agradecer favores,
escrever meu nome completo.
O mais são as mal-traçadas linhas.
10 de fev. de 2014
Tapete-inglês - Polygonum capitatum
Sou entre flor e nuvem,
estrela e mar. Por que
havemos de ser unicamente
humanos, limitados em chorar?
estrela e mar. Por que
havemos de ser unicamente
humanos, limitados em chorar?
Cecília Meireles
Nomes Populares: Tapete-inglês,
Família: Polygonaceae
Categoria: Forrações à Meia Sombra, Forrações ao Sol Pleno
Clima: Continental, Mediterrâneo, Oceânico, Subtropical, Temperado, Tropical
Origem: Ásia, Himalaia, Índia
Altura: menos de 15 cm
Luminosidade: Meia Sombra, Sol Pleno
Ciclo de Vida: Perene
9 de fev. de 2014
Cabeceira :: Ana Cristina Cesar
Não quero mais por poemas no papel
nem dar a conhecer minha ternura.
Faço ar de dura,
não pergunto
"da sombra daquele beijo
que farei?"
É inútil
ficar à escuta
ou manobrar a lupa
da adivinhação.
Dito isto
o livro de cabeceira cai no chão.
Tua mão que desliza
distraidamente
sobre a minha mão.
O alfabeto no parque - Adélia Prado
Escrevo cartas, bilhetes, lista de compras,
composição escolar narrando o belo passeio
à fazenda da vovó que nunca existiu
porque ela era pobre como Jó.
Mas escrevo também coisas inexplicáveis:
quero ser feliz, isto é amarelo.
E não consigo, isto é dor.
Vai-te de mim, tristeza, sino gago,
pessoas dizendo entre soluços:
«não aguento mais».
Moro num lugar chamado globo terrestre
onde se chora mais
que o volume das águas denominadas mar,
para onde levam os rios outro tanto de lágrimas.
Aqui se passa fome. Aqui se odeia.
Aqui se é feliz, no meio de invenções miraculosas.
Imagine que uma dita roda-gigante
propicia passeios e vertigens entre
luzes, música, namorados em êxtase.
Como é bom! De um lado os rapazes.
Do outro as moças, eu louca para casar
e dormir com meu marido no quartinho
de uma casa antiga com soalho de tábua.
Não há como não pensar na morte,
entre tantas delícias, querer ser eterno.
Sou alegre e sou triste, meio a meio.
Levas tudo a peito, diz a minha mãe,
dá uma volta, distrai-te, vai ao cinema.
A mãe não sabe, cinema é como diria o avô:
«cinema é gente passando.
Viu uma vez, viu todas.»
Com perdão da palavra, quero cair na vida.
Quero ficar no parque, a voz do cantor açucarando a tarde…
Assim escrevo: tarde. Não a palavra,
a coisa.
8 de fev. de 2014
A Lua no Cinema de PAULO LEMINSKI
Jana Joana e Vitché
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado.
Era a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!
7 de fev. de 2014
Os Mistérios do Ofício :: Anna Akhmátova
e o encanto das elegias sentimentais?
Para mim, na poesia, tudo tem de ser desmesurado,
e não do jeito como todo mundo faz.
Se vocês soubessem de que lixeira
saem, desavergonhados, os versos,
como dente-de-leão que brota ao pé da cerca,
como a bardana ou o cogumelo.
Um grito que vem do coração, o cheiro fresco de alcatrão,
o bolor oculto na parede...
E, de repente, a poesia soa, calorosa, terna,
Para a minha e tua alegria.
Tradução de Lauro Machado Coelho
6 de fev. de 2014
Amo, amas :: Rubén Darío
Konstantin Bogaevsky, 1940
Amar, amar, amar, amar sempre, com todo
O ser e com a terra e com o céu,
Com o claro do sol e o escuro do lodo;
Amar por toda ciência e amar, por todo desejo.
E quando a montanha da vida
Nos seja dura e longa e alta e cheia de abismos,
Amar a imensidade que é de amor acesa
E arder na fusão de nossos peitos mesmos!
Tradução de Maria Teresa Almeida Pina
Boniteza torta :: Cecília Meireles
não gosta dos vidrados escorridos desigualmente,
não aprecia a boniteza torta das canecas,
das jarrinhas sem equilíbrio total.
Cecília Meireles, 1953
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Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector
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