Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
14 de jun. de 2014
Catar feijão :: João Cabral de Mello Neto
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e o oco; palha e eco.
2.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com o risco.
13 de jun. de 2014
Lua e estrela :: Caetano Veloso
Menina do anel
De lua e estrela
Raios de sol
No céu da cidade
Brilho da lua
Noite é bem tarde
Penso em você
Fico com saudade
Manhã chegando
Luzes morrendo
Nesse espelho
Que é nossa cidade
Quem é você?
Qual o seu nome?
Conta pra mim
Diz como eu te encontro
Mas deixa o destino
Deixa o acaso
Quem sabe eu te encontro
De noite no baixo
Brilho da lua
Noite bem tarde
Penso em você
Fico com saudade
Mas deixa o destino
Deixa o seu castro
Quem sabe eu te encontro
De noite no baixo
Brilho da lua
Noite bem tarde
Penso em você
Fico com saudade
12 de jun. de 2014
O mais singular livro dos livros :: J. W. Goethe (1749-1832)
Edward Burne-Jones
O mais singular livro dos livros
É o Livro do Amor;
Li-o com toda a atenção:
Poucas folhas de alegrias,
De dores cadernos inteiros;
Apartamento faz uma secção,
Reencontro! um breve capítulo,
Fragmentário. Volumes de mágoas
Alongados de comentários,
Infinitos, sem medida.
Ó Nisami ! – mas no fim
Achaste o justo caminho;
O insolúvel, quem o resolve?
Os amantes que tornam a encontrar-se.
De Divan Ocidental-Oriental
11 de jun. de 2014
Estrangeiro de José Guilherme de Araujo Jorge
Estranho, como de repente
o que era a minha vida, ou o que eu julgava que era
não faz sentido mais ...
Tenho a alma daquele imigrante em terra estranha
a carregar sozinho seus pensamentos
em meio à algazarra do cais...Antes de ti
a vida era um velho roteiro, rotina
comum...
Agora, quando venho de teus braços
estou no Paraíso...
E estou sempre chegando a lugar nenhum...
10 de jun. de 2014
Questão de Pontuação :: João Cabral de Mello Neto
Todo mundo aceita que ao homem
cabe pontuar a própria vida:
que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca);
viva em ponto de interrogação
(foi filosofia, ora é poesia);
viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política):
o homem só não aceita do homem
que use a só pontuação fatal:
que use, na frase que ele vive
o inevitável ponto final.
9 de jun. de 2014
Criança :: Sylvia Plath
O olho claro é a coisa mais bonita em você.
Quem dera enchê-lo de patos e cores,
Zôo do novo,
Nomes em que você pensa –
Campânula-de-abril, Cachimbo-de-índio,
Pequenino
Caule sem espinhos,
Lago em cujas margens, imagens
Pudessem ser clássicas e imensas
Não esse tenso
Torcer de mãos, esse teto
Escuro e sem estrela.
Tradução de Rodrigo G. Lopes e Maurício A. Mendonça
8 de jun. de 2014
7 de jun. de 2014
Nara Lofego Leão Diegues (Vitória, 19 de janeiro de 1942 - Rio de Janeiro, 7 de junho de 1989)
"Eu não tenho nenhuma intenção de mudar. Quando os outros dizem que eu mudei, eu não tive intenção de mudar, nem pretensão de mudar. Nem intenção de fazer nada novo. Corresponde a uma necessidade minha. Necessidade de ter um papo novo, porque aquele outro tá chato. Sabe? Eu me sinto recebendo coisas novas, impulsos novos e energias novas, juntando isso com a minha energia, recarregando a minha energia. É como se eu estivesse andando por uma estrada, pegando uma manga aqui, um caju ali, uma pera acolá. A vida vai indo, e eu vou caminhando."
fonte: Jornal da Tarde, 27/6/1981
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