14 de jun. de 2014

NOBUHIRO NAKANISHI (Fukuoka, Japão 1976 )










Catar feijão :: João Cabral de Mello Neto

Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e o oco; palha e eco.

2.

Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com o risco.

13 de jun. de 2014

Pablo Picasso













Lua e estrela :: Caetano Veloso



Menina do anel 
De lua e estrela 
Raios de sol 
No céu da cidade 
Brilho da lua 
Noite é bem tarde 
Penso em você 
Fico com saudade 
Manhã chegando 
Luzes morrendo 
Nesse espelho 
Que é nossa cidade 
Quem é você? 
Qual o seu nome? 
Conta pra mim 
Diz como eu te encontro 
Mas deixa o destino 
Deixa o acaso 
Quem sabe eu te encontro 
De noite no baixo 
Brilho da lua 
Noite bem tarde 
Penso em você 
Fico com saudade 

Mas deixa o destino 
Deixa o seu castro 
Quem sabe eu te encontro 
De noite no baixo 
Brilho da lua 
Noite bem tarde 
Penso em você 
Fico com saudade 



12 de jun. de 2014

O mais singular livro dos livros :: J. W. Goethe (1749-1832)

Edward Burne-Jones 


O mais singular livro dos livros
É o Livro do Amor;
Li-o com toda a atenção:
Poucas folhas de alegrias,
De dores cadernos inteiros;
Apartamento faz uma secção,
Reencontro! um breve capítulo,
Fragmentário. Volumes de mágoas
Alongados de comentários,
Infinitos, sem medida.
Ó Nisami ! – mas no fim 
Achaste o justo caminho;
O insolúvel, quem o resolve?
Os amantes que tornam a encontrar-se.

De Divan Ocidental-Oriental

11 de jun. de 2014

Estrangeiro de José Guilherme de Araujo Jorge


Paradise - Marc Chagall, 1961

Estranho, como de repente
o que era a minha vida, ou o que eu julgava que era
não faz sentido mais ...

Tenho a alma daquele imigrante em terra estranha
a carregar sozinho seus pensamentos
em meio à algazarra do cais...Antes de ti
a vida era um velho roteiro, rotina
comum...

Agora, quando venho de teus braços
estou no Paraíso...

E estou sempre chegando a lugar nenhum...




10 de jun. de 2014

Questão de Pontuação :: João Cabral de Mello Neto


Todo mundo aceita que ao homem
cabe pontuar a própria vida:
que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca);

viva em ponto de interrogação
(foi filosofia, ora é poesia);
viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política):

o homem só não aceita do homem
que use a só pontuação fatal:
que use, na frase que ele vive
o inevitável ponto final.

9 de jun. de 2014

Criança :: Sylvia Plath



O olho claro é a coisa mais bonita em você. 
Quem dera enchê-lo de patos e cores, 
Zôo do novo,

Nomes em que você pensa – 
Campânula-de-abril, Cachimbo-de-índio, 
Pequenino

Caule sem espinhos, 
Lago em cujas margens, imagens 
Pudessem ser clássicas e imensas

Não esse tenso 
Torcer de mãos, esse teto 
Escuro e sem estrela.

Tradução de Rodrigo G. Lopes e Maurício A. Mendonça

8 de jun. de 2014

7 de jun. de 2014

Nara Lofego Leão Diegues (Vitória, 19 de janeiro de 1942 - Rio de Janeiro, 7 de junho de 1989)








"Eu não tenho nenhuma intenção de mudar. Quando os outros dizem que eu mudei, eu não tive intenção de mudar, nem pretensão de mudar. Nem intenção de fazer nada novo. Corresponde a uma necessidade minha. Necessidade de ter um papo novo, porque aquele outro tá chato. Sabe? Eu me sinto recebendo coisas novas, impulsos novos e energias novas, juntando isso com a minha energia, recarregando a minha energia. É como se eu estivesse andando por uma estrada, pegando uma manga aqui, um caju ali, uma pera acolá. A vida vai indo, e eu vou caminhando."
fonte: Jornal da Tarde, 27/6/1981

Irene Guerriero (São Paulo, 1964)





















Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...