6 de out. de 2014

Katharine Morling :: cerâmica


















Vaidade :: Florbela Espanca

Florbela Espanca

Sonho que sou a Poetisa eleita, 
Aquela que diz tudo e tudo sabe, 
Que tem a inspiração pura e perfeita, 
Que reúne num verso a imensidade! 

Sonho que um verso meu tem claridade 
Para encher todo o mundo! E que deleita 
Mesmo aqueles que morrem de saudade! 
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita! 

Sonho que sou Alguém cá neste mundo... 
Aquela de saber vasto e profundo, 
Aos pés de quem a Terra anda curvada! 

E quando mais no céu eu vou sonhando, 
E quando mais no alto ando voando, 
Acordo do meu sonho...E não sou nada!...

5 de out. de 2014

O Ciclista :: André Ricardo Aguiar

Cyclist - Natalia Goncharova, 1913

À flor veloz    
colhe o tempo
(pedal)         
pé ante perigo 
no risco de dar consigo

Centauro de rodas e aros, 
meio homem, meio 
de transporte

A pena da bicicleta 
escreve ruas 
até que uma esquina 
engatilha o ciclista 
e dispara—

A pólvora do instante
o ciclo da vida

Tudo pássaro 
e passageiro.

4 de out. de 2014

EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA :: Yannis Ritsos (1909-1990)

Matisse
Há certos versos - às vezes poemas inteiros -
que eu próprio não sei o que querem dizer. O que ignoro
retém-me ainda. E tu, tu tens razão em interrogar. Não interrogues.
Já te disse que não sei.
Duas luzes paralelas
vindo do mesmo centro. O ruído da água
que cai, no inverno, da goteira a transbordar
ou o ruído de uma gota de água caindo
de uma rosa no jardim, regado há pouco,
devagar, devagarinho, uma tarde de primavera,
como o soluço de um pássaro. Não sei que quer dizer este ruído; contudo aceito-o.
As coisas que sei explico-tas,
sem negligência.
Mas as outras também acrescentam a nossa vida.
Eu olhava
o seu joelho dobrado, como ela dormia,
levantando o lençol -
não era apenas amor. Este ângulo
era o cume da ternura, e o cheiro
do lençol, a lavado e a primavera, completava
este inexplicável, que eu procurei,
em vão ainda, explicar-te.


(Tradução de  Eugénio de Andrade)

3 de out. de 2014

Toshiaki Kato


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DEVÍAMOS :: Ana Blandiana ( 1942 Timisoara, Romania)

Boris Kustodiev

Devíamos nascer velhos,
despertos, capazes de decidir
nosso destino na Terra,
saber que caminho tomar
desde a primeira encruzilhada
e que irresponsável fosse apenas
o desejo de ir mais longe.
Depois, pormo-nos a caminhar,
cada vez mais jovens,
alcançar maduros e fortes
as portas da criação,
atravessá-las e entrar apaixonados
na adolescência,
sendo crianças quando nos nascessem os filhos.
Estes seriam assim sempre mais velhos que nós,
ensinando-nos a falar
e embalando-nos para dormir,
desapareceríamos pouco a pouco,
cada vez mais pequenos,
como um grãozinho de uva, de ervilha ou de trigo...



2 de out. de 2014

Acaso :: Fernando Pessoa

No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.
A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.
Perco-me subitamente da visão imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.
Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.
Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!
Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por gênio, se calhar,
Se calhar, ou até sem calhar,
Maravilha das celebridades!
Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos...
Mas isto era a respeito de uma rapariga,
De uma rapariga loira,
Mas qual delas?
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade,
Numa outra espécie de rua;
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade
Numa outra espécie de rua;
Por que todas as recordações são a mesma recordação,
Tudo que foi é a mesma morte,
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã?
Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional.
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas?
Pode ser... A rapariga loira?
É a mesma afinal...
Tudo é o mesmo afinal ...
Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal.

Falar :: Ferreira Gullar

Will Barnet

A poesia é, de fato, o fruto
de um silêncio que sou eu, sois vós,
por isso tenho que baixar a voz
porque, se falo alto, não me escuto.

A poesia é, na verdade, uma
fala ao revés da fala,
como um silêncio que o poeta exuma
do pó, a voz que jaz em baixo
do falar e no falar se cala.
Por isso o poeta tem que falar baixo
baixo quase sem fala em suma
mesmo que não se ouça coisa alguma.



Gynura








Nome Científico: Gynura
Familia: Asteraceae
Exigências climáticas: Tropical
Porte: pendente
Nome popular: Veludo roxo, Purple Passion
Exigências de luz:  moderada
Crescimento: Lento no inverno/ rápido no verão
Origem: São encontradas em florestas tropicais desde a África até a Ásia
Exigências nutricionais: Moderada
Floração: No verão aparecem pequenas flores amarelas de pouca importância ornamental.
Tolerância à seca: Baixa
Usos: Meia sombra
Exigências quanto ao solo: Úmido
Tolerância ao sol: Moderada (tolera exposição ao sol, mas fica mais bonita na sombra)
A Gynura é nativa das florestas tropicais da África e Ásia e podem ser vistas entre as árvores ou até mesmo expostas ao sol. Herbácea perene de crescimento rápido no verão e muito lento no inverno, a Gynura é uma planta que exige poucos cuidados. Os mais importantes são a rega e a poda. No verão, podas constante são necessárias, já que é uma planta que cresce muito esta época do ano. A rega precisa ser feita com mais freqüência, tomando-se o cuidado de diminuí-las no outono e no inverno para não apodrecer as raízes, já que a planta pára de crescer. Não tolera geadas, mas suporta bem temperaturas até 10ºC.

1 de out. de 2014

Ócna: carnival ochna, bird’s eye bush, Mickey Mouse bush (em inglês); umbomvane (em zulu); ilitye (em língua xhosa)







Sinônimos estrangeiros: carnival ochna, bird’s eye bush, Mickey Mouse bush (em inglês); umbomvane (em zulu); ilitye (em língua xhosa).
Família: Ochnaceae.
Características: arbusto lenhoso.
Porte: 2,00 a 4,50 m.
Fenologia: primavera.
Cor da flor: Amarela com receptáculo vermelho e fruto preto, levemente perfumada.
Cor da folhagem: verde-médio.
Origem: África do Sul, Lesoto, Botsuana, Zimbábue e Moçambique.
Clima: subtropical.
Luminosidade: sol pleno, suporta meia-sombra.

Nos Estados Unidos é chamada popularmente de Mickey Mouse, por causa da cor vermelho vivo das sépalas florais que contrastam com os frutos pretos, lembrando o personagem de Walt Disney. Essas flores atraem borboletas e abelhas e os frutinhos são disputados pelos pássaros, que colaboram disseminando as mudinhas. Inicialmente seu crescimento é lento, mas acelera mais tarde, especialmente se as regas forem generosas. Apesar de suportar a sombra, onde alcança uma altura maior, é no sol que floresce com intensidade e as folhas com bordas serrilhadas brilham mais, destacando, na primavera, a brotação de tonalidade rosa-bronze.
Na costa Leste do sul da África, surge espontaneamente a partir do nível do mar até altitudes de quase 1 800 m. Há séculos os zulus, uma nação de antigos guerreiros que habitam o Sul do continente africano, usam as raízes da ócna para o tratamento de problemas ósseos, especialmente de crianças.
No paisagismo deve ser considerada como uma massa intermediária entre os arbustos e as árvores, já que seu tamanho final é grande se a contemplamos como arbusto.
fonte: http://www.jardimcor.com/catalogo-de-especies/ochna-serrulata/

A visita :: Jorge Enrique Adoum

 Rene Magritte2

Bato à porta.
-Quem é, pergunto.
-Eu, respondo.
-Adiante, digo.
Eu entro.
Vejo-me como era há muito tempo.
Me espera o que sou agora.
Não sei qual dos dois está mais velho.

30 de set. de 2014

Ekaterina Panikanova ( San Pietroburgo 1975 vive e lavora tra Roma e San Pietroburgo )














Missão :: Leonard Cohen

Trabalhei no meu trabalho
Dormi no meu sono
Morri na minha morte
E agora posso abandonar

Abandonar aquilo que faz falta
E abandonar aquilo que está cheio
Necessidade de espírito
E necessidade no Buraco

Amada, sou teu
Como sempre fui
Da medula aos poros
Do anseio à pele

Agora que a minha missão
Chegou ao fim:
Reza para que me seja perdoada
A vida que levei

O Corpo que persegui
Perseguiu-me igualmente
O meu anseio é um lugar
O meu morrer, uma vela.

In:  Livro do Desejo (edições quasi) tradução de Vasco Gato

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...