Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
5 de dez. de 2014
4 de dez. de 2014
Pont solferino :: Alice Sant'Anna
foi escolha sua saltar
muito antes do destino
só para atravessar uma
ponte
curioso isso de atravessar
pontes
e cruzar um lugar impossível
sobre o sena
sobrevoando mesmo
os bateaux mouches
a vista privilegiada
de uma tarde muito azul
apesar do vento: essas árvores
amarelas que pipocam
no outono
3 de dez. de 2014
IRMANDADE de Octavio Paz
Stars - Agnes Martin, 1963
Sou homem: duro pouco
e é enorme a noite.
Mas olho para cima:
as estrelas escrevem.
Sem entender compreendo:
Também sou escritura
e neste mesmo instante
alguém me soletra.
2 de dez. de 2014
Noite de dezembro de 1972 de Tomas Tranströmer
http://independent.academia.edu/LucianoDutra/Papers/1934414/Tomas_Transtromer_Samlade_dikter_-_amostra_de_traducao_do_
1 de dez. de 2014
AS AMORAS :: Eugénio de Andrade (Portugal - Póvoa de Atalaia, 19 de Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005)
O meu país sabe às amoras bravas no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
30 de nov. de 2014
Dois irmãos :: Alice Sant'Anna
Wendell Well
não sei qual força mantém
as montanhas firmes
(talvez se olharmos
com muita atenção é capaz
de flagrarmos
uma leve respiração
um suspiro)
só sei que à noite,
quando o escuro
não se preocupa em contornar
os morros, esses gigantes
se mexem um dedinho
para o lado – as pedras
também têm seus caprichos
29 de nov. de 2014
Eduardo Galeano: "Primeras letras"
Com as toupeiras, aprendemos a fazer túneis.
Com os castores, aprendemos a fazer diques.
Com os pássaros, aprendemos a fazer casas.
Com as aranhas, aprendemos a tecer.
Com o tronco que rolava encosta abaixo, aprendemos a roda.
Com o tronco que boiava à deriva, aprendemos o barco.
Com o vento, aprendemos a vela.
Quem nos tem ensinado os muitíssimos males?
De quem aprendemos a atormentar ao próximo e a humilhar ao mundo?
Tradução de Adriano Nunes
:::::::::::::::::::::::::::::
De los topos, aprendimos a hacer túneles.
De los castores, aprendimos a hacer diques.
De los pájaros, aprendimos a hacer casas.
De las arañas, aprendimos a tejer.
Del tronco que rodaba cuesta abajo, aprendimos la rueda.
Del tronco que flotaba a la deriva, aprendimos la nave.
Del viento, aprendimos la vela.
¿Quién nos habrá enseñado las malas mañas?
¿De quién aprendimos a atormentar al prójimo y a humillar al mundo?
In: GALEANO, Eduardo. “El Viaje”. Mini Letras/ H KliCZKOWSKI, primera edición: septiembre de 2006., p. 26.
28 de nov. de 2014
Volta :: Alice Sant'Anna
Reb Frost
esses dias de tédio
em que se tem tempo –
tempo só se arranja quando
não se tem
quando sobra desse jeito
a gente repete os assuntos
o ônibus chega rápido
e os trajetos ficam curtos
– de repente
readaptar-se à própria casa
como foi lá? bom
rever os gigantes, os mínimos
dedicar a eles igual dose
de carinho ou indiferença
usar as roupas que ficaram
meses dobradas no armário
com cheiro de sachê
nessas tardes sem compromisso
esticadas com rolo de macarrão
tudo é longo
nada dura
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