5 de dez. de 2014

Lina Bo Bardi (Roma, 5.12. 1914 — São Paulo, 20.03.1992)

Nunca procurei a beleza, mas sim a poesia
















fonte: http://www.institutobardi.com.br/obra_lina.asp

Idea Vilariño: "Tudo é tão simples"

Tudo é tão simples muito
mais simples e no entanto
'inda assim há momentos
em que é demasiado para mim
em que não entendo
e não sei se sorrir com gargalhadas
ou se chorar de medo
ou estar aqui sem pranto
sem risos
em silêncio
assumindo minha vida
meu trânsito
meu tempo.

Tradução de Adriano Nunes
:::::::::::::::::::::;
Todo es muy simple mucho
más simple y sin embargo
aun así hay momentos
en que es demasiado para mí
en que no entiendo
y no sé si reírme a carcajadas
o si llorar de miedo
o estarme aqui sin llanto
sin risas
en silencio
asumiendo mi vida
mi tránsito
mi tiempo.



VILARIÑO, Idea. Poesía Completa. Montevideo: Cal y Canto, 2012, p. 118.

Gregory Colbert ( Toronto, Canada, 1960 )















4 de dez. de 2014

Franz Conrad Linck







Pont solferino :: Alice Sant'Anna

Les arbres des quais avec le Pont-Neuf - Brassai, 1945

foi escolha sua saltar 
muito antes do destino
só para atravessar uma 
ponte
curioso isso de atravessar 
pontes
e cruzar um lugar impossível 
sobre o sena
sobrevoando mesmo 
os bateaux mouches
a vista privilegiada
de uma tarde muito azul
apesar do vento: essas árvores 
amarelas que pipocam 
no outono


3 de dez. de 2014

2 de dez. de 2014

1 de dez. de 2014

AS AMORAS :: Eugénio de Andrade (Portugal - Póvoa de Atalaia, 19 de Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005)



O meu país sabe às amoras bravas no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

30 de nov. de 2014

Dois irmãos :: Alice Sant'Anna

Wendell Well
não sei qual força mantém
as montanhas firmes
(talvez se olharmos
com muita atenção é capaz
de flagrarmos
uma leve respiração
um suspiro)
só sei que à noite,
quando o escuro
não se preocupa em contornar
os morros, esses gigantes
se mexem um dedinho
para o lado – as pedras
também têm seus caprichos


29 de nov. de 2014

Eduardo Galeano: "Primeras letras"

Com as toupeiras, aprendemos a fazer túneis.

Com os castores, aprendemos a fazer diques.

Com os pássaros, aprendemos a fazer casas.

Com as aranhas, aprendemos a tecer.

Com o tronco que rolava encosta abaixo, aprendemos a roda.

Com o tronco que boiava à deriva, aprendemos o barco.

Com o vento, aprendemos a vela.

Quem nos tem ensinado os muitíssimos males?

De quem aprendemos a atormentar ao próximo e a humilhar ao mundo?


Tradução de Adriano Nunes


:::::::::::::::::::::::::::::

De los topos, aprendimos a hacer túneles.

De los castores, aprendimos a hacer diques.

De los pájaros, aprendimos a hacer casas.

De las arañas, aprendimos a tejer.

Del tronco que rodaba cuesta abajo, aprendimos la rueda.

Del tronco que flotaba a la deriva, aprendimos la nave.

Del viento, aprendimos la vela.

¿Quién nos habrá enseñado las malas mañas?

¿De quién aprendimos a atormentar al prójimo y a humillar al mundo?

In: GALEANO, Eduardo. “El Viaje”. Mini Letras/ H KliCZKOWSKI, primera edición: septiembre de 2006., p. 26.


28 de nov. de 2014

Volta :: Alice Sant'Anna

Reb Frost

esses dias de tédio
em que se tem tempo – 
tempo só se arranja quando 
não se tem
quando sobra desse jeito
a gente repete os assuntos
o ônibus chega rápido 
e os trajetos ficam curtos
– de repente
readaptar-se à própria casa
como foi lá? bom
rever os gigantes, os mínimos
dedicar a eles igual dose
de carinho ou indiferença
usar as roupas que ficaram
meses dobradas no armário
com cheiro de sachê
nessas tardes sem compromisso
esticadas com rolo de macarrão
tudo é longo
nada dura

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...