10 de abr. de 2015

Orquídeas :: Chris Chun













Eu Tomo Conta do Mundo :: Clarice Lispector

“Sou uma pessoa muito ocupada: tomo conta do mundo. Todos os dias olho pelo terraço para o pedaço de praia com mar, e vejo às vezes que as espumas parecem mais brancas e que às vezes durante à noite as águas avançaram inquietas, vejo isso pela marca que as ondas deixaram na areia. Olho as amendoeiras de minha rua. Presto atenção se o céu de noite, antes de eu dormir e tomar conta do mundo em forma de sonho,  se o céu de noite está estrelado e azul-marinho, porque em certas noites em vez de negro parece azul-marinho. O cosmos me dá muito trabalho, sobretudo porque vejo que Deus é o cosmos. Disso eu tomo conta com alguma relutância. Observo o menino de uns dez anos, vestido de trapos e magérrimo. Terá futura tuberculose, se é que já não a tem. No Jardim Botânico, então, eu fico exaurida, tenho que tomar conta com o olhar das mil plantas e árvores, e sobretudo das vitórias-régias.
Que se repare que não menciono nenhuma vez as minhas impressões emotivas: lucidamente apenas falo de algumas das milhares de coisas e pessoas de quem eu tomo conta. Também não se trata de um emprego pois dinheiro não ganho por isso. Fico apenas sabendo como é o mundo.

Se tomar conta do mundo dá trabalho? Sim. E lembro-me de um rosto terrivelmente inexpressível de uma mulher que vi na rua. Tomo conta dos milhares de favelados pelas encostas acima. Observo em mim mesma as mudanças de estação: eu claramente mudo com elas.

Hão de me perguntar por que tomo conta do mundo: é que nasci assim, incumbida. E sou responsável por tudo o que existe, inclusive pelas guerras e pelos crimes de leso-corpo e lesa-alma. Sou inclusive responsável pelo Deus que está em constante cósmica evolução para melhor.

Tomo desde criança conta de uma fileira de formigas: elas andam em fila indiana carregando um pedacinho de folha, o que não impede que cada uma, encontrando uma fila de formigas que venha de direção oposta, pare para dizer alguma coisa às outras.

Li o livro célebre sobre as abelhas, e tomei desde então conta das abelhas, sobretudo da rainha-mãe. As abelhas voam e lidam com flores: isto eu constatei. Mas as formigas têm uma cintura muito fininha. Nela, pequena como é, cabe um mundo que, se eu não tomar cuidado, me escapa: senso instintivo de organização, linguagem para além do supersônico aos nossos ouvidos, e provavelmente para sentimentos instintivos de amor-sentimento, já que falam.
Tomei muita conta das formigas quando era pequena, e agora, que eu queria tanto poder revê-las, não encontro uma. Que não houve matança delas, eu sei porque se tivesse havido eu já teria sabido. Tomar conta do mundo exige também muita paciência: tenho que esperar pelo dia em que me apareça uma formiga. Paciência: observar as flores imperceptivelmente e lentamente se abrindo.
Só não encontrei ainda a quem prestar contas.”

in: A descoberta do mundo. Nova Fronteira, 1984.

9 de abr. de 2015

Dyckia




















Dyckia maracasensis
Domínio: Eukaryota
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Subclasse: Commelinidae
Ordem: Poales
Família: Bromeliaceae
Subfamília: Pitcairnioideae
Género: Dyckia
Dyckia Schult.f. é um género botânico pertencente à família Bromeliaceae, subfamília Pitcairnioideae.
É um grupo de plantas originárias da América do Sul, encontradas principalmente na Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Brasil.
O gênero foi nomeado em homenagem ao Principe Joseph Salm-Reifferscheid-Dyck (1773-1861), botânico e horticultor Germano-prussiano
Espécies e variedades
É composto por aproximadamente 120 espécies. As principais espécies e variedades são:

Dyckia beateae E.Gross & Rauh
Dyckia brasiliana L.B.Smith
Dyckia braunii Rauh
Dyckia brevifolia Baker
Dyckia choristaminea Mez
Dyckia dawsonii L.B.Smith
Dyckia encholirioides (Gaudichaud) Mez
Dyckia encholirioides var. rubra (Wittmack) Reitz
Dyckia estevesii Rauh
Dyckia fosteriana L.B.Smith
Dyckia hohenbergioides Leme & Esteves
Dyckia macedoi L.B.Smith
Dyckia marnier-lapostollei L.B.Smith
Dyckia marnier-lapostollei var. estevesii (L.B.Smith) Rauh
Dyckia microcalyx var. ostenii L.B.Smith
Dyckia minarum Mez
Dyckia platyphylla L.B.Smith
Dyckia racinae L.B.Smith
Dyckia reitzii L.B.Smith
Dyckia remotiflora var. angustior L.B.Smith
Dyckia tuberosa (Vellozo) Beer
Dyckia ursina L.B.Smith
Dyckia velascana Mez

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Velho pássaro, este mundo :: Thiago de Mello

M.C. Escher
Velho pássaro, este mundo
dorme como um menino
e se renova a cada manhã.

8 de abr. de 2015

Gia Revazi (1954 Tbilisi, Georgia)
















Certas palavras :: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Certas palavras não podem ser ditas
em qualquer lugar e hora qualquer.
Estritamente reservadas
para companheiros de confiança,
devem ser sacralmente pronunciadas
em tom muito especial
lá onde a polícia dos adultos
não adivinha nem alcança.
Entretanto são palavras simples:
definem
partes do corpo, movimentos, atos
do viver que só os grandes se permitem
e a nós é defendido por sentença
dos séculos.
E tudo é proibido. Então, falamos.

in: Boitempo

7 de abr. de 2015

RECEITA DE PÃO :: ROSEANA MURRAY

Anders Zorn, 1889
é coisa muito antiga
o ofício do pão
primeiro misture o fermento
com água morna e açúcar
e deixe crescer ao sol

depois numa vasilha
derrame a farinha e o sal
óleo de girassol manjericão

adicionado o fermento
vá dando o ponto com calma
água morna e farinha

mas o pão tem seus mistérios
na sua feitura há que entrar
um pouco da alma do que é etéreo

então estique a massa
enrole numa trança
e deixe que descanse
que o tempo faça a sua dança

asse em forno forte
até que o perfume do pão
se espalhe pela casa e pela vida

in Receitas de olhar, ed. FTD , 1997

Mussambê, sete-marias, planta-aranha, Cleome



A lua clareando 
O sol vai nascendo 
Debaixo da latada 
É só forró comendo 

Mas que sol quente que beleza 
É o calor do meu sertão 
É o sol maior da natureza 
É brasa viva queimando meu coração 

Venha conhecer comigo amigo 
A Serra da Borborema 
Molhar os pés no orvalho 
Cheirando a flor de açucena 

Oi venha ver, oi venha ver 
Como é cheirosa a flor do mussambê 
Ó venha ver, ó venha ver 
Como é cheirosa a flor do mussambê.

Autor: Luiz Wanderley, Nildo Lopes E Nildo Lopes




Sinonímia: Cleome hasslerana, Cleome houtteana, Cleome pungens, Cleome spinosa, Cleome arborea
Família: Cleomaceae
Divisão: Angiospermae
Origem: América do Sul
Ciclo de Vida: Perene
Deve ser cultivado sob sol pleno, em solo fértil, enriquecido com matéria orgânica, permanentemente úmido ou irrigado regularmente. Adapta-se a terrenos alagadiços e no entorno de lagos e espelhos d’água. Pode tolerar meia-sombra em locais muito quentes, porém com floração menos exuberante. Apesar de perene, muitas variedades comerciais devem ser tratadas como anuais, pois perdem a beleza com o tempo. Multiplica-se por sementes.

6 de abr. de 2015

"Terceto" :: Eucanaã Ferraz

Martial Raysse, 1971
Não há matéria para se fazer tristeza
nesta manhã, manhã perfeita
se a mão que me deu maio fosse a tua.

5 de abr. de 2015

Oração aos vivos para que sejam perdoados por estarem vivos :: Charlotte Delbo


                                                                                                                    Edward Burne-Jones
Eu suplico-vos
fazei qualquer coisa
aprendei um passo
uma dança
alguma coisa que vos justifique
que vos dê o direito
de vestir a vossa pele o vosso pêlo
aprendei a andar e a rir
porque será completamente estúpido
no fim
que tantos tenham sido mortos
e que vós viveis
sem nada fazer da vossa vida.

Tradução: Luís Filipe Parrado

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...