Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
7 de dez. de 2015
6 de dez. de 2015
Talvez seja um pássaro :: Régis Bonvicino
Jan Sluyters
Talvez seja um pássaro voando
talvez seja um minuto de silêncio
talvez seja o sol se escondendo
talvez o inverno não tenha
passado
talvez aqui seja uma esquina
talvez seja alguém se aproximando
talvez sejam vozes tempo e silêncio
a sós
talvez seja a lua cheia que dilata a
pupila da noite
talvez não seja nada
ângulos adjacentes do nada
provavelmente um refugo
talvez seja o tempo
se dissolvendo
folhas da cor do cobre
aguardando o azul
talvez seja flor
atáxica
talvez seja um céu de dezembro
talvez esteja calada
acariciando o silêncio
dos estames
talvez seja um vento real
anêmonas expostas ao sol
talvez esta flor seja agave
talvez funcho
o azul neste ínterim brilhe
talvez seja só um botão
lilás
roído por dentro
talvez seja o sol se pondo . . . . . . . . . .
Céu-eclipse, 1999.
5 de dez. de 2015
Encontro :: HAGAR PEETERS (Amsterdam, 1972)
Ele não apareceu.
Talvez tenha adoecido ou ficado debaixo de
um eléctrico. Talvez outra pessoa se pusesse na conversa com ele.
Talvez se tenha esquecido do relógio,
ou o relógio se tenha esquecido de lhe dar o tempo certo.
Talvez o carro não pegasse,
ou tenha ficado avariado a meio do caminho.
Talvez alguém lhe telefonasse quando ia a sair de casa,
dizendo-lhe que tinha de ir a um funeral
ou que a mãe dele tinha morrido.
Talvez tenha encontrado um antigo conhecido.
Talvez tenha tido uma discussão no emprego,
tenha sido despedido e esteja a esconder
a cabeça debaixo de uma almofada.
Talvez a ponte estivesse fechada e
a seguinte também.
Talvez o semáforo permanecesse vermelho.
Talvez o multibanco tenha engolido o cartão
ou a meio do caminho tenha reparado que se esquecera
do porta-moedas.
Talvez tenha perdido os óculos,
não conseguisse deixar de ler,
houvesse um programa que ele queria acabar de ver,
não conseguisse dar a volta à fechadura da porta,
não encontrasse as chaves em sítio nenhum e
o cão dele de repente começasse a vomitar.
Talvez não houvesse um telefone por perto,
não encontrasse o restaurante
ou esteja à espera noutro sítio, por engano.
Talvez – a última possibilidade,
incompreensível e inesperada –
ele tenha deixado de me amar.
(in Genoeg gedicht over de liefde vandaag, 1999)
4 de dez. de 2015
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