Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
13 de fev. de 2017
10 de fev. de 2017
8 de fev. de 2017
Vida bordada :: Silvana Conterno
Kira Nichols
Em muitos matizes
Agulhas perfuram
Profundamente
Nossos tecidos
Forma custosa
Demorada
Muitas voltas, laçadas
Ponto atrás, quando preciso
Ponto haste, dando direção
Correntinha para amenizar
Um coração em rococó
Marco preciso com ponto cruz
Para os vazios infindáveis
Tentamos o ponto cheio
E segundo dizem
É pelo avesso que se vê
O capricho de uma vida
Nós e fios cortados
Arremate que nunca finda
6 de fev. de 2017
5 de fev. de 2017
Um novo poeta :: Linda Pastan
Encontrar um novo poeta
é como encontrar uma nova flor silvestre
na floresta. Não vemos
o seu nome nos livro de botânica, e
ninguém, quando lhes contamos, acredita
na sua estranha cor ou na forma como
as suas folhas crescem em filas inclinadas
descendo a largura inteira da página. Na verdade
a própria página cheira a vinho
derramado e ao aroma do mar
num dia enevoado – o odor de verdade
e de mentir.
E as palavras são tão familiares,
tão estranhamente novas, palavras
que quase escrevemos nós próprios, se por acaso
nos nossos sonhos existisse um lápis
ou uma caneta ou até um pincel,
se por acaso existisse uma flor.
3 de fev. de 2017
Todos irão sempre contra ti :: Hilda Hilst (Jaú- SP 21 de abril de 1930 - Campinas, 4 de fevereiro de 2004)
Todos irão sempre contra ti
porque tens pureza.
Porque o agitado de tuas mãos
é quase nostálgico.
Porque teus olhos
ficarão abertos
para quem os viu
uma única vez.
Todos irão sempre contra ti
porque hás de querer
um mundo novo e diferente.
Porque és estranho
e diferente para o nosso mundo.
És quase um louco
porque dás atenção
a toda gente.
Dirão que és poeta.
Porque a poesia aparece nos teus gestos
como aparece fé na oração de um crente.
Amaste quase todas as mulheres.
Mas o amor agora é tão difícil.
Não existes para mim.
Mas agitado, febril,
quase doente, és vivo...
Vivo demais para estar conosco.
Hilda Hilst. Pressagio : poemas primeiros. Revista dos Tribunais, 1950.
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Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector
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