Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
12 de out. de 2017
10 de out. de 2017
Para fazer uma campina
basta um trevo e uma abelha,
Um só trevo, e uma abelha,
E a fantasia.
Basta só a fantasia,
Se a abelha é fugidia.
Tradução: Isa Mara Lando
....
Para fazer uma campina
Basta um só trevo e uma abelha.
Trevo, abelha e fantasia.
Ou apenas fantasia
Faltando a abelha.
Tradução: Idelma Ribeiro de Faria
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To make a prairie it takes a clover and one bee,
One clover, and a bee,
And revery.
The revery alone will do,
If bees are few.
9 de out. de 2017
A Mulher e a Casa :: João Cabral de Melo Neto (09 Janeiro 1920,Recife, Pernambuco - 09 Outubro 1999 Rio de Janeiro, Rio de Janeiro )
Tua sedução é menos
de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.
Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,
uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.
Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;
pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;
pelos espaços de dentro:
seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,
os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,
exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.
Publicado no livro Quaderna (1960).
In: MELO NETO, João Cabral de. Obra completa: volume único. Org. Marly de Oliveira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p.241-242.
8 de out. de 2017
Auto-retrato :: LAIS CORRÊA DE ARAUJO (1929-2006)
William Blake
O que eu era fui
fluída fugidia fumaça
fui e era
não ao perfeito ser
Vislumbro o que fui
ou só vislumbre o outro é
ostensiva fragmentação
de bem moldada forma
no barro adâmico
de sonho e sono fui
derrapante à erosão
era fui ser não sei
a chuva corre em mim
esta que era, fui
brasa evaporada
sob as gotas do medo
7 de out. de 2017
GATOS e MONSTROS :: Milton Hatoum
Às cinco e vinte da manhã, acendi a luz e comecei a limpar o banheiro dos dois irmãos. O mais magro é bagunceiro e leva jeito de destemido, mas se assusta até com uma sombra; Temis, a irmã dele, é mais quieta e, em certos momentos, se entrega à reflexão. Ambos mantêm uma postura elegante, altiva, sem falar na conduta ética, de fazer inveja nestes tempos...
Antes de jogar os dejetos nas folhas de um jornal de junho, dei uma olhada nas fotografias e manchetes. E o que vejo, ainda em jejum? Uma imagem de rostos monstruosos: um grupo de machos governamentais, jovens e velhos, uns oito ou nove velhacos, indiciados ou investigados. Ao lado desses homúnculos, uma chamada na capa: O presidente sancionou uma Medida Provisória que reduz em quase 40% a área da Floresta Nacional do Jamanxim (PA). São os grandes grileiros, em conluio com certos políticos do Pará, do Mato Grosso...
Quando dizem que vão fiscalizar uma área florestal liberada para extração de minérios ou plantação de soja, só um ingênuo é capaz de acreditar nessa mentira deslavada. Não fiscalizam nem mesmo o Parque Nacional, ali perto de Sobradinho, nas barbas do Planalto...
Por que somos tão passivos diante de tantos crimes? Onde estão as panelas de antanho?
Perguntas que faço a Temis, enquanto junto com uma pá a areia suja e cubro a imagem dos machos meliantes, todos eles mais empedernidos que os dejetos dos felinos, e mais rapaces que hienas, com a devida vênia a esses devoradores de cadáveres.
Embrulho tudo e escuto um miado melodioso: é um pedido para que eu abra a janela, pois está amanhecendo, e minha felina de pelagem cinza é crepuscular. Sei que essa bela palavra é batida, mas não encontro outra para expressar a atração de Temis pela primeira luz da manhã e a última da tarde, quando ela contempla com olhar parcimonioso, e não raramente sonhador, o mundo lá fora.
Ali embaixo se reúnem os primeiros operários que trabalham numa torre de concreto, alguns se benzem ao passar diante da igreja, ainda fechada. À direita, quase na esquina, um rapaz abre a banca de revistas e jornais e pendura as manchetes das iniquidades do Brasil: “país de caminhos fechados”, como escreveu o poeta.
Temis vê a faxineira do prédio na calçada, olha para mim e pisca: é o afeto felino, tão puro e espontâneo, que rima com cristalino. Nas raras andanças pelo térreo, a gata conversa com a faxineira sobre a vida, sempre mais dura e perigosa para milhares de mulheres que acordam às cinco da matina, rezam para não ser assaltadas e atravessam a cidade para ganhar o pão de cada dia.
No fim da tarde, a felina gosta de escutar o Magnificat e ver os noivos radiantes sob uma chuva de arroz na porta da igreja, antes de rumarem à primeira ou milésima noite. Ela não sai da janela, pois sabe que ainda ouvirá um réquiem na missa à memória de uma pessoa que passou para o outro lado do espelho.
Amanhã, bem cedinho, vou acender a luz e despejar os dejetos nos rostos dos farsantes monstruosos. Depois, no crepúsculo do dia e da noite, vou acompanhar o olhar da felina, que salta do mundo real ao imaginário, vai da tristeza à alegria, da esperança ao desencanto, numa onda de emoções que também me comove.
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fonte: Caderno 2, Jornal O Estado de São Paulo. 8/9/2017
Antes de jogar os dejetos nas folhas de um jornal de junho, dei uma olhada nas fotografias e manchetes. E o que vejo, ainda em jejum? Uma imagem de rostos monstruosos: um grupo de machos governamentais, jovens e velhos, uns oito ou nove velhacos, indiciados ou investigados. Ao lado desses homúnculos, uma chamada na capa: O presidente sancionou uma Medida Provisória que reduz em quase 40% a área da Floresta Nacional do Jamanxim (PA). São os grandes grileiros, em conluio com certos políticos do Pará, do Mato Grosso...
Quando dizem que vão fiscalizar uma área florestal liberada para extração de minérios ou plantação de soja, só um ingênuo é capaz de acreditar nessa mentira deslavada. Não fiscalizam nem mesmo o Parque Nacional, ali perto de Sobradinho, nas barbas do Planalto...
Por que somos tão passivos diante de tantos crimes? Onde estão as panelas de antanho?
Perguntas que faço a Temis, enquanto junto com uma pá a areia suja e cubro a imagem dos machos meliantes, todos eles mais empedernidos que os dejetos dos felinos, e mais rapaces que hienas, com a devida vênia a esses devoradores de cadáveres.
Embrulho tudo e escuto um miado melodioso: é um pedido para que eu abra a janela, pois está amanhecendo, e minha felina de pelagem cinza é crepuscular. Sei que essa bela palavra é batida, mas não encontro outra para expressar a atração de Temis pela primeira luz da manhã e a última da tarde, quando ela contempla com olhar parcimonioso, e não raramente sonhador, o mundo lá fora.
Ali embaixo se reúnem os primeiros operários que trabalham numa torre de concreto, alguns se benzem ao passar diante da igreja, ainda fechada. À direita, quase na esquina, um rapaz abre a banca de revistas e jornais e pendura as manchetes das iniquidades do Brasil: “país de caminhos fechados”, como escreveu o poeta.
Temis vê a faxineira do prédio na calçada, olha para mim e pisca: é o afeto felino, tão puro e espontâneo, que rima com cristalino. Nas raras andanças pelo térreo, a gata conversa com a faxineira sobre a vida, sempre mais dura e perigosa para milhares de mulheres que acordam às cinco da matina, rezam para não ser assaltadas e atravessam a cidade para ganhar o pão de cada dia.
No fim da tarde, a felina gosta de escutar o Magnificat e ver os noivos radiantes sob uma chuva de arroz na porta da igreja, antes de rumarem à primeira ou milésima noite. Ela não sai da janela, pois sabe que ainda ouvirá um réquiem na missa à memória de uma pessoa que passou para o outro lado do espelho.
Amanhã, bem cedinho, vou acender a luz e despejar os dejetos nos rostos dos farsantes monstruosos. Depois, no crepúsculo do dia e da noite, vou acompanhar o olhar da felina, que salta do mundo real ao imaginário, vai da tristeza à alegria, da esperança ao desencanto, numa onda de emoções que também me comove.
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fonte: Caderno 2, Jornal O Estado de São Paulo. 8/9/2017
5 de out. de 2017
Benedito, o Negro, o Mouro ( 31 de março de 1524 em Sicília, Itália - 4 de abril de 1589, em Palermo, na Itália)
Ruy Moura
História
Aos 18 anos de idade, já havia decidido consagrar-se ao serviço de Deus, e, aos 21, um monge dos irmãos eremitas de São Francisco de Assis chamou-o para viver entre eles. Benedito aceitou. Fez votos de pobreza, obediência e castidade, e, coerentemente, caminhava descalço pelas ruas e dormia no chão sem cobertas. Era muito procurado pelo povo, que desejava ouvir seus conselhos e pedir-lhe orações.
Cumprindo seu voto de obediência, depois de 17 anos entre os eremitas, foi designado para ser cozinheiro no Convento dos Capuchinhos. Sua piedade, sabedoria e santidade levaram seus irmãos de comunidade a elegê-lo Superior do Mosteiro, apesar de analfabeto e leigo, pois não havia sido ordenado sacerdote. Seus irmãos o consideravam iluminado pelo Espírito Santo, pois fazia muitas profecias. Ao terminar o tempo determinado como Superior, reassumiu com muita humildade mas com alegria suas atividades na cozinha do convento.
Sempre preocupado com os mais pobres do que ele, aqueles que não tinham nem o alimento diário, retirava alguns mantimentos do Convento, escondia-os dentro de suas roupas e os levava para os famintos que enchiam as ruelas das cidades. Conta a tradição que, em uma dessas saídas, o novo Superior do Convento o surpreendeu e perguntou-lhe: " O que escondes aí, embaixo de teu manto, irmão Benedito?" E o santo, humildemente, respondeu-lhe: "Rosas, meu senhor!", e, abrindo o manto, de fato apareceram rosas de grande beleza e não os alimentos de que suspeitava o Superior.
São Benedito morreu aos 65 anos, no dia 4 de abril de 1589, em Palermo, na Itália. Na porta de sua cela, no Convento de Santa Maria de Jesus de Palermo, se encontra uma placa com a inscrição em italiano indicando que era a Cela de São Benedito e, embaixo, as datas 1524-1589, para indicar as datas do nascimento e de sua morte. Alguns autores indicam 1526 como o ano de seu nascimento, mas os Frades do Convento de Santa Maria de Jesus consideram que a data certa é 1525.
Veneração
Todo ano a seguir à Páscoa, há uma missa e festa em sua honra na localidade de Coval, no concelho de Santa Comba Dão, em Portugal. Em Guaratinguetá, desde 1726, há cavalaria em louvor a São Benedito, tradicionalmente no domingo de Páscoa. No Brasil, o santo é tradicionalmente venerado pelos negros, que relacionam o período de escravidão e a origem africana do santo com o seu próprio passado de escravidão e suas raízes africanas.
fonte: Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
4 de out. de 2017
A PALAVRA MÁGICA :: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.
In: Discurso de Primavera, 1977 e
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa. São Paulo: Nova Aguilar, 2002
1 de out. de 2017
Cássia bakeriana - Cinnamomum cassia
A Cassia bakeriana, é menor em estatura, no entanto, o que lhe falta em altura total, mais do que compensa em tamanho de flor e quantidade de flores. Seus longos ramos arqueados são completamente cobertos de flores cor-de-rosa de meados de março a abril, perdendo as folhas antes da floração. As flores atraem abelhas e borboletas, e os ramos flexíveis resistem a quebrar ventos fortes. Esta árvore de crescimento rápido é nativa da Tailândia e do sudeste da Ásia.
ESTRANGEIRO ::JULIA DE SOUZA
Frank Hallam Day
jurou conhecer
cada lugar de
cada página da
national geographic
nem é tão frio no polo sul
no meu tempo se podia
viver acho que vim
de navio trinta dias ou
mais até o porto de
santos preciso parar e
lembrar tudo o que fiz.
por fim apontou o mar
e disse no meu tempo
tudo isso aí
era mato.
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