Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
26 de jun. de 2018
24 de jun. de 2018
Flor-de-são-joão, cipó-de-são-joão, cipó-bela-flor, marquesa-de-belas, cipó-pé-de-lagartixa, cipó-de-lagarto (Pyrostegia venusta)
O nome vem do seu uso em festividades juninas de São João.
A multiplicação é por meio de estacas ou sementes.
Começa a florescer em maio e vai até o mês de setembro, variando em cada estado do Brasil.
Possui propriedades medicinais e tóxicas
19 de jun. de 2018
18 de jun. de 2018
16 de jun. de 2018
Variação sobre a Palavra Dormir :: Margaret Atwood
gostava de te ver a dormir,
coisa que poderá não acontecer.
gostava de te ficar a ver,
a dormir. gostava de dormir
contigo, de entrar
no teu sono enquanto a vaga escura e lisa
desliza sobre mim
e caminhar contigo através da luzente
floresta trémula de folhas verde azuis
com o seu sol aguado e as três luas
em direcção à gruta a que deverás descer,
em direcção ao teu maior medo
gostava de te dar o ramo de prata,
a pequena flor branca, a simples
palavra que te resguardará
da mágoa que está no centro
do teu sonho, da mágoa que está
no centro. gostava de seguir
os teus passos na longa subida
mais uma vez e tornar-me
no barco que te remaria de volta
cuidadosamente, uma chama
em duas mãos postas
até onde jaz o teu corpo
ao meu lado, e tu entravas
nele tão fácil como respirar
gostava de ser o ar
que te habita por um momento
apenas. gostava de passar tão desapercebida
e ser tão necessária.
Margaret Atwood, Selected Poems II: 1976-1986, Houghton Mifflin, Boston, 1987.
s.
Variation on the Word Sleep
I would like to watch you sleeping,
which may not happen.
I would like to watch you,
sleeping. I would like to sleep
with you, to enter
your sleep as its smooth dark wave
slides over my head
and walk with you through that lucent
wavering forest of bluegreen leaves
with its watery sun & three moons
towards the cave where you must descend,
towards your worst fear
I would like to give you the silver
branch, the small white flower, the one
word that will protect you
from the grief at the center
of your dream, from the grief
at the center. I would like to follow
you up the long stairway
again & become
the boat that would row you back
carefully, a flame
in two cupped hands
to where your body lies
beside me, and you enter
it as easily as breathing in
I would like to be the air
that inhabits you for a moment
only. I would like to be that unnoticed
& that necessary.
coisa que poderá não acontecer.
gostava de te ficar a ver,
a dormir. gostava de dormir
contigo, de entrar
no teu sono enquanto a vaga escura e lisa
desliza sobre mim
e caminhar contigo através da luzente
floresta trémula de folhas verde azuis
com o seu sol aguado e as três luas
em direcção à gruta a que deverás descer,
em direcção ao teu maior medo
gostava de te dar o ramo de prata,
a pequena flor branca, a simples
palavra que te resguardará
da mágoa que está no centro
do teu sonho, da mágoa que está
no centro. gostava de seguir
os teus passos na longa subida
mais uma vez e tornar-me
no barco que te remaria de volta
cuidadosamente, uma chama
em duas mãos postas
até onde jaz o teu corpo
ao meu lado, e tu entravas
nele tão fácil como respirar
gostava de ser o ar
que te habita por um momento
apenas. gostava de passar tão desapercebida
e ser tão necessária.
Margaret Atwood, Selected Poems II: 1976-1986, Houghton Mifflin, Boston, 1987.
s.
Variation on the Word Sleep
I would like to watch you sleeping,
which may not happen.
I would like to watch you,
sleeping. I would like to sleep
with you, to enter
your sleep as its smooth dark wave
slides over my head
and walk with you through that lucent
wavering forest of bluegreen leaves
with its watery sun & three moons
towards the cave where you must descend,
towards your worst fear
I would like to give you the silver
branch, the small white flower, the one
word that will protect you
from the grief at the center
of your dream, from the grief
at the center. I would like to follow
you up the long stairway
again & become
the boat that would row you back
carefully, a flame
in two cupped hands
to where your body lies
beside me, and you enter
it as easily as breathing in
I would like to be the air
that inhabits you for a moment
only. I would like to be that unnoticed
& that necessary.
11 de jun. de 2018
9 de jun. de 2018
7 de jun. de 2018
Sob uma estrela pequenina :: Wislawa Szymborska
Me desculpe o acaso por chamá-lo necessidade.
Me desculpe a necessidade se ainda assim me engano.
Que a felicidade não se ofenda por tomá-la como minha.
Que os mortos me perdoem por luzirem fracamente na memória.
Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por segundo.
Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro.
Me perdoem, guerras distantes, por trazer flores para casa.
Me perdoem, feridas abertas, por espetar o dedo.
Me desculpem os que clamam das profundezas pelo disco de minuetos.
Me desculpem a gente nas estações pelo sono das cinco da manhã.
Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.
Sinto muito, desertos, se não lhes levo uma colher de água.
E você, falcão, há anos o mesmo, na mesma gaiola,
fitando sem movimento sempre o mesmo ponto,
me absolva, mesmo se você for um pássaro empalhado.
Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.
Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas pequenas.
Verdade, não me dê excessiva atenção.
Seriedade, me mostre magnanimidade.
Ature, segredo do ser, se eu puxo os fios das suas vestes.
Não me acuse, alma, por tê-la raramente.
Me desculpe tudo, por não estar em toda parte.
Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada uma.
Sei que, enquanto viver, nada me justifica
já que barro o caminho para mim mesma.
Não me julgues má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas,
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.
Me desculpe a necessidade se ainda assim me engano.
Que a felicidade não se ofenda por tomá-la como minha.
Que os mortos me perdoem por luzirem fracamente na memória.
Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por segundo.
Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro.
Me perdoem, guerras distantes, por trazer flores para casa.
Me perdoem, feridas abertas, por espetar o dedo.
Me desculpem os que clamam das profundezas pelo disco de minuetos.
Me desculpem a gente nas estações pelo sono das cinco da manhã.
Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.
Sinto muito, desertos, se não lhes levo uma colher de água.
E você, falcão, há anos o mesmo, na mesma gaiola,
fitando sem movimento sempre o mesmo ponto,
me absolva, mesmo se você for um pássaro empalhado.
Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.
Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas pequenas.
Verdade, não me dê excessiva atenção.
Seriedade, me mostre magnanimidade.
Ature, segredo do ser, se eu puxo os fios das suas vestes.
Não me acuse, alma, por tê-la raramente.
Me desculpe tudo, por não estar em toda parte.
Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada uma.
Sei que, enquanto viver, nada me justifica
já que barro o caminho para mim mesma.
Não me julgues má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas,
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.
5 de jun. de 2018
A Mulher de Lot :: Assionara Souza
Um passo atrás
Enquanto a cidade desaba
Todos correndo
Um tumulto dos diabos
O filho, a filha, o marido
A vizinha da frente — com quem o infeliz tem fornicado
Há mais de cinco anos embaixo de seu nariz
Como se ela não soubesse
Como se ela não tivesse visto de tudo nessa vida
Ele perguntando se a camisa vermelha
— Aquela com um só bolso no lado direito?
— Sim. Essa mesma.
Se a camisa vermelha não estava limpa e bem passada
E o filho indo no mesmo caminho
Tratando-a feito lixo
— A mãe não sabe pronunciar a palavra “estultícia”. Tenta, mãe!
Estúpidos todos
Até a filha, que ela tanto ensinou
Agora andava com um centurião
Um centurião!
Maior desgosto para uma mãe
E depois dessa correria toda
Quando arrumassem pouso
Adivinhem quem prepararia o jantar?
Não teve a menor dúvida
Mirou a cidade em chamas
Uma sensação incrível
Deixar de ser uma mulher de pedra
Seu corpo inteiro puro sal rebrilhando ao sol
3 de jun. de 2018
A MULHER DE LOT :: Anna Akhmátova
Benjamin West (1738 – 1820)
E o homem justo seguiu o enviado de Deus,
alto e brilhante, pelas negras montanhas.
Mas a angústia falava bem alto à sua mulher:
"Ainda não é tarde demais; ainda dá tempo de olhar
as rubras torres da tua Sodoma natal,
a praça onde cantavas, o pátio onde fiavas,
as janelas vazias da casa elevada
onde destes filhos ao homem amado".
Ela olhou e - paralisada pela dor mortal -,
seus olhos nada mais puderam ver.
E converte-se o corpo em transparente sal
e os ágeis pés no chão enraizaram-se.
Quem há de chorar por essa mulher?
Não é insignificante demais para que a lamentem?
E, no entanto, meu coração nunca esquecerá
quem deu a própria vida por um único olhar.
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