O
Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
9 de mar. de 2020
NA PRESENÇA DA FLORISTA :: Jacques Prevért (1900-1977)
Colhereiro
Colhereiro (platea ajajá )
O colhereiro é uma ave pelecaniforme da família Threskiornithidae. Também conhecido como ajajá e colhereiro-americano.
Nome Científico
Seu nome científico significa: do (latim)
Colhereiro
= bico em forma de colher (origem do grego platea = largo); e do (tupi) ayayá ou ajajá Colhereiro rosado Ave rosada com bico em forma de colher ou colhereiro rosado.
Wikiaves
Quisera ser um gato :: FERREIRA GULLAR
Alegra-me a confiança de um bicho que não fala a minha língua, que não sabe quem sou eu
Fora os fantasmas que me acompanham e me fazem refletir sobre o sentido da vida, vivo eu, neste apartamento, com uma gatinha siamesa. Que é linda, não preciso dizer, mas, além disso, é especial: quase nunca mia e, quando soa a campainha da porta, se arranca. Nem eu sei onde ela se esconde.
Ela é, portanto, muito diferente do gatinho que, antes dela, me fazia companhia e que se foi. Morreu de velho, já que nunca havia adoecido durante seus 16 anos de vida. Quando adoeceu, foi para morrer. Não preciso dizer que fiquei traumatizado e não quis mais saber de outro gato. Amigas e amigos me ofereceram um substituto para o meu gatinho, e eu respondia que amigo não se substitui.
Os anos se passaram, a dor foi se apagando, até que um belo dia, minha amiga Adriana Calcanhotto chegou aqui em casa com um presente para mim: era uma gatinha siamesa. Faltou-me coragem para dizer não, mesmo porque a bichinha me encantou à primeira vista. Manteve-se arredia por algum tempo, mas logo me aceitou e nos tornamos amigos.
Hoje me sinto praticamente lisonjeado pelo fato de que, por medo ou desconfiança, enquanto ela foge de todo mundo, me busca pela casa, sobe em minhas pernas e ali se deita, isso sem falar que, todas as noites, dorme em minha cama.
Confia em mim, sabe que gosto dela e que pode contar comigo para o que der e vier. Essa confiança de um bicho que não fala a minha língua, que não sabe quem sou eu, mas só o que sou dentro desta casa, me alegra.
E às vezes, olhando-a dormir na poltrona da sala, lembro que para ela a morte não existe, como existe para nós, gente. Ela é mortal, mas não sabe, logo é imortal. A morte, no caso dela, é apenas um acidente como outro qualquer, dormir, comer, brincar, correr; só existirá quando acontecer, sem que ela saiba o que está acontecendo.
Neste ponto é que a invejo. Já pensou como a vida seria leve se não tivéssemos consciência de que ela acaba? Seria como viver para sempre, tal como ocorre com a gatinha.
E enquanto penso essas tolices, ela --que se chama Gatinha-- se levanta, vem até mim e começa a se roçar nas minhas pernas, insistentemente. Só então me dou conta de que está pedindo que eu vá até a cozinha e ponha ração no seu prato. Ela não sabe que é mortal, mas sabe muito bem que necessita comer e que quem lhe providencia a comida sou eu.
A verdade é que vivemos os dois neste apartamento cheio de livros, quadros e móbiles (feitos por mim, não por Calder, ou seja, falsos móbiles) e nos entendemos bem. A Gatinha é diferente do Gatinho, é de outra geração, a geração do pet shop. Por isso mesmo, ela não come carne nem peixe, só come ração.
Consequentemente, ao contrário do Gatito, que subia na mesa para xeretar meu almoço, ela não está nem aí para comida de gente, só quer saber de ração. E tem mais: só pode ser aquela ração; se mudar, ela não come, cheira e vai embora.
Aliás, isso criou um problema sério, quando a ração que Adriana trouxera terminou. Como não entendia de rações, ao ver que a dela acabara, fui a um pet shop aqui perto para comprar e, como não tinha a dela, decidi comprar qualquer outra, mas fui advertido pela dona da loja de que teria que ser da mesma ração.
Fui a outra loja, bem mais longe, e lá também não tinha a tal ração. Pedi a meu neto que a comprasse num pet shop do Humaitá, bairro onde ele mora, e nada, lá também não havia. Desesperado, liguei para Adriana que, imediatamente, me fez chegar aqui em casa dois pacotes com a raríssima ração que a gatinha comia. Respirei, aliviado.
Depois aprendi que para evitar que ela morra de fome, no caso de faltar sua ração exclusiva, há que ter em casa uma ração parecida e ir misturando à sua até que se acostume. Coisas de gatos modernos, muito diferentes daqueles que, outrora, vagabundeavam aqui pelos telhados e pela rua.
Mas, se mudou a ração, não mudou a razão que me fez adotá-la como minha companheira de todas as horas, que me acorda, pontualmente, às seis horas da manhã, vindo cheirar meu rosto sob o lençol. E agora a vejo, ali, a poucos metros de mim, deitada na poltrona, livre da morte, nesta tarde de março, num determinado ponto da Via Láctea, onde moramos.
2 de mar. de 2020
Memento :: Yevgeny Yevtushenko (1932-)
28 de fev. de 2020
Para “A Sebastiana”:: Pablo Neruda
Para “A Sebastiana”
Eu construí a casa. Primeiramente fi-la de ar.
Depois hasteei a bandeira
e deixei-a pendurada
no firmamento, na estrela,
na claridade e na escuridão. Cimento, ferro, vidro,
eram a fábula,
valiam mais que o trigo e como o ouro,
era preciso procurar e vender,
e assim um camião chegou:
desceram sacos e mais sacos,
a torre fincou-se na terra dura – mas isto não basta, disse o construtor,
falta cimento, vidro, ferro, portas – ,
e nessa noite não dormi.
Mas crescia,
cresciam as janelas
e com pouca coisa,
projetando, trabalhando,
arremetendo-lhe com o joelho e o ombro
cresceria até ficar completada,
até poder olhar pela janela,
e parecia que com tanto saco
poderia ter teto e subir
e agarrar-se, por fim, à bandeira
que suspensa do céu agitava ainda as suas cores.
Dediquei-me às portas mais baratas,
às que morreram
e foram arrancadas das suas casas,
portas sem parede, rachadas,
amontoadas nas demolições,
portas já sem memória,
sem recordação de chave, e disse: “Vinde
a mim, portas perdidas:
dar-vos-ei casa e parede
e mão que bate,
oscilareis de novo abrindo a alma,
velareis o sono de Matilde
com as vossas asas que voaram tanto.”
Então a pintura
chegou também lambendo as paredes,
vestiu-as de azul-celeste e cor-de-rosa
para que se pusessem a bailar.
Assim a torre baila,
cantam as escadas e as portas,
sobe a casa até tocar o mastro,
mas o dinheiro falta: faltam pregos,
faltam aldrabas, fechaduras, mármore.
Contudo, a casa
vai subindo
e algo acontece, um latejo
circula nas suas artérias:
é talvez um serrote que navega
como um peixe na água dos sonhos
ou um martelo que pica
como um pérfido pica-pau
as tábuas do pinhal que pisaremos.
Algo acontece e a vida continua.
A casa cresce e fala,
aguenta-se nos pés,
tem roupa pendurada num andaime,
e como pelo mar a primavera
nadando como uma ninfa marinha
beija a areia de Valparaíso,
não se pense mais: esta é a casa:
tudo o que lhe falta será azul,
agora só precisa de florir.
E isso é trabalho da Primavera.
Neruda, Pablo. Plenos Poderes. Tradução de Luís Pignatelli. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 196. p.73.
25 de fev. de 2020
Pacari : João Guimarães Rosa.
24 de fev. de 2020
O Desvio :: Yêda Schmaltz
14 de fev. de 2020
Jó consolado :: Adélia Prado
13 de fev. de 2020
Passeio à infância.:: Rubem Braga
Amor perfeito (viola tricolor)
Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector
Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...
-
Tem de haver mais Agora o verão se foi E poderia nunca ter vindo. No sol está quente. Mas tem de haver mais. Tudo aconteceu, Tu...
-
A ilha da Madeira foi descoberta no séc. XV e julga-se que os bordados começaram desde logo a ser produzidos pel...