Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
22 de nov. de 2021
15 de nov. de 2021
12 de nov. de 2021
Canção para Amazônia:: Nando Reis e Carlos Rennó
Maior floresta tropical da Terra
A toda hora sofre um duro golpe.
Contra trator, corrente, motosserra,
A bela flora clama em vão: “Me poupe!”
Porém tem uma gente surda e cega
Para a beleza e o valor da mata,
Embora o mundo grite que já chega
Pois é a vida que o desmate mata.
Mais vasta ainda todavia é a devastação e o trauma:
Focos de fogo nos sufocam fauna, flora e até a alma.
Amazônia!
Razão de tanta insânia e tanta insônia!
Amazônia!
Objeto de omissão e ação errônea!
Amazônia!
É sem igual, sem plano B nem clone a
Amazônia!
Desmonte pra desmate e desvario
Liberam a floresta no Brasil
Pro agrobiz e pra mineração,
Pra hidrelétrica, pra exploração.
Recompensando o crime ambiental,
Desregulando o clima mundial,
Negam ciência, incêndio e derrubada.
Negando, vão passando a boiada.
Que ignorância, repugnância, a cada lance, a cada vídeo!
Que grande bioecoetnogenomatrisuicídio!
Amazônia!
Abaixo o (des) governo que abandone a
Amazônia!
Não mais a soja, o pasto que seccione a
Amazônia!
Não mais a carne, o prato que pressione a
Amazônia!
Dos povos da floresta sob pressão,
O indígena, seu grande guardião,
Em comunhão com ela há milênios,
Nos últimos e trágicos decênios
Vem vendo a mata sendo ameaçada
E cada terra deles atacada
Por levas de peões de poderosos
Com planos de riqueza horrorosos.
É invasão!, destruição!, ódio a quem são seus empecilhos!
Eles não pensam no amanhã nem do planeta nem dos próprios filhos!
Amazônia!
Abaixo o madeireiro que detone a
Amazônia!
Abaixo o garimpeiro que infeccione a
Amazônia!
Abaixo o grileiro que fraciona a
Amazônia!
Mais valiosa que qualquer minério,
Tragada pela mata que transpira,
A água que evapora sobe e vira
De veio subterrâneo a rio aéreo.
Mais volumosos do que o Amazonas,
Os rios voadores distribuem
Seus límpidos vapores que afluem
Ao Centro-Sul, chegando noutras zonas.
Então como é que na floresta mais chuvosa o fogo avança,
E ardendo em chamas nela queima de futuro uma esperança?
Amazônia!
Não mais um mandatário que intencione a
Amazônia,
Nem mais um empresário que ambicione a
Amazônia
Pra mais um ciclo de nação-colônia.
Amazônia!
Visão monumental que maravilha
Obra da natureza que exubera
De cores, seres, cheiros, som, de vida
Tão pródiga, tão pura, tão diversa
A fábrica de chuva mais prolixa
A máquina do mundo mais complexa
O doceanoverdeparaíso
O coração pulsante do planeta
Quinze mil árvores contudo agora estão indo pro chão.
Quinze mil vidas derrubadas só durante o tempo desta canção!...
... Amazônia...
Que nem desmatamento desmorone a
Amazônia!
E nem desmandamento deixe insone a
Amazônia!
E nem o aquecimento desfuncione a
Amazônia!
O que o índio viu, previu, falou,
Também o cientista comprovou.
Desmate aumenta, o clima seco aquece
A mata, o céu e a Terra, que estarrece.
Esse é o recado deles, lá no fundo:
Salve-se a selva ou não se salva o mundo!
Pra não torná-los um inferno, um forno,
Salve a Amazônia do ponto sem retorno!
Será que ainda tá em tempo ou o timing disso já perdemos?
Pois, evitemos pelo menos os eventos mais extremos.
Amazônia...
Quando afinal o homem dimensione a
Amazônia,
Que venha a ter valido a nossa insônia
– Amazônia –,
Enquanto nos encante e emocione a...
Amazônia!
Salve a Amazônia!
Salve-se a selva ou não se salva o mundo!
8 de nov. de 2021
1 de nov. de 2021
Jorge Luis Borges: o Remorso (El remordimiento)
Cometi o pior dos pecados
Que um homem pode cometer. Não fui
Feliz. Que os glaciares do esquecimento
Me arrastem e me percam, desapiedados.
Meus pais me engendraram para o jogo
Arriscado e formoso da vida,
Para a terra, a água, o ar, o fogo.
Defraudei-os. Não fui feliz. Cumprida
Não foi sua jovem vontade. Minha mente
Se aplicou às simétricas porfias
Da arte, que entretece naderias.
Legaram-me coragem. Não fui valente.
Não me abandona. Sempre está a meu lado
A sombra de ter sido um desgraçado
BORGES, Jorge Luís. "La moneda de hierro". In: Obras completas II: 1975-1985. Buenos Aires, 1989.
El remordimiento
He cometido el peor de los pecados
Que un hombre puede cometer. No he sido
Feliz. Que los glaciares del olvido
Me arrastren y me pierdan, despiadados.
Mis padres me engendraron para el juego
Arriesgado y hermoso de la vida,
Para la tierra, el agua, el aire, el fuego.
Los defraudé. No fui feliz. Cumplida
No fue su joven voluntad. Mi mente
Se aplicó a las simétricas porfías
Del arte, que entreteje naderías.
Me legaron valor. No fui valiente.
No me abandona. Siempre está a mi lado
La sombra de haber sido un desdichado.
25 de out. de 2021
21 de out. de 2021
Exausto de Adélia Prado
18 de out. de 2021
Ao pé de sua criança :: Pablo Neruda
Helene Schjerfbeck
O pé da criança ainda não sabe que é pé,
e quer ser borboleta ou maçã.
Mas depois os vidros e as pedras,
as ruas, as escadas,
e os caminhos de terra dura
vão ensinando ao pé que não pode voar,
que não pode ser fruta redonda num ramo.
Então o pé da criança
foi derrotado, caiu
na batalha,
foi prisioneiro,
condenado a viver num sapato.
Pouco a pouco sem luz
foi conhecendo o mundo à sua maneira,
sem conhecer o outro pé, encerrado,
explorando a vida como um cego.
............
El pie del niño aún no sabe que es pie,
y quiere ser mariposa o manzana.
Pero luego los vidrios y las piedras,
las calles, las escaleras,
y los caminos de la tierra dura
van enseñando al pie que no puede volar,
que no puede ser fruto redondo en una rama.
El pie del niño entonces
fue derrotado, cayó
en la batalla,
fue prisionero,
condenado a vivir en un zapato.
Poco a poco sin luz
fue conociendo el mundo a su manera,
sin conocer el otro pie, encerrado,
explorando la vida como un ciego.
Aquellas suaves uñas
de cuarzo, de racimo,
se endurecieron, se mudaron
en opaca substancia, en cuerno duro,
y los pequeños pétalos del niño
se aplastaron, se desequilibraron,
tomaron formas de reptil sin ojos,
cabezas triangulares de gusano.
Y luego encallecieron,
se cubrieron
con mínimos volcanes de la muerte,
inaceptables endurecimientos.
Pero este ciego anduvo
sin tregua, sin parar
hora tras hora,
el pie y el otro pie,
ahora de hombre
o de mujer,
arriba,
abajo,
por los campos, las minas,
los almacenes y los ministerios,
atrás,
afuera, adentro,
adelante,
este pie trabajó con su zapato,
apenas tuvo tiempo
de estar desnudo en el amor o el sueño,
caminó, caminaron
hasta que el hombre entero se detuvo.
Y entonces a la tierra
bajó y no supo nada,
porque allí todo y todo estaba oscuro,
no supo que había dejado de ser pie,
si lo enterraban para que volara
o para que pudiera
ser manzana.
12 de out. de 2021
5 de out. de 2021
Destino de poeta :: Octavio Paz
Palavras? Sim, de ar
e perdidas no ar.
Deixa que eu me perca entre palavras,
deixa que eu seja o ar entre esses lábios,
um sopro erramundo sem contornos,
breve aroma que no ar se desvanece.
Também a luz em si mesma se perde.
PAZ, Octavio; CAMPOS, Haroldo. Transblanco (em torno a Blanco de Octavio Paz. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
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¿Palabras? Sí, de aire,
y em el aire perdidas.
Déjame que me pierda entre palavras,
déjame ser el aire en unos labios,
un soplo vagabundo sin contornos,
breve aroma que el aire desvanece.
También la luz en sí misma se pierde.
Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector
Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...
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Tem de haver mais Agora o verão se foi E poderia nunca ter vindo. No sol está quente. Mas tem de haver mais. Tudo aconteceu, Tu...
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A ilha da Madeira foi descoberta no séc. XV e julga-se que os bordados começaram desde logo a ser produzidos pel...