24 de fev. de 2014

Um dia virás de Dulce Antunes

Konstantin Makovsky

Um dia virás
subirás os degraus
da escada dos sonhos
virás de olhar límpido
num espelho de silêncio

um dia irás acordar numa manhã cristalina
e verás como o sol brilha sobre o prado
saberás que é para ti
que virá a brisa quente da primavera
e que toda a noite tem o seu término

um dia saberás que o tempo é uma ilusão do mundo
um dia saberás que são as águas do rio que moldam as pedras
e não as rochas que o comprimem

um dia saberás que é por ti que as flores crescem na terra escura
um dia sentirás o seu perfume
e perceberás que a mais alta montanha 
esconde nas suas entranhas o maior tesouro
e que o seu cume é apenas um deserto

23 de fev. de 2014

1910 de Federico Garcia Lorca

Garcia Lorca 

Aqueles olhos meus de mil novecentos e dez
não viram enterrar os mortos,
nem a feira de cinza do que chora de madrugada,
nem o coração que treme acantonado como um cavalinho do mar.

Aqueles olhos de mil novecentos e dez
viram a branca parede onde urinavam meninas,
o focinho do touro, a seta venenosa
e uma luz incompreensível que iluminava pelos cantos
pedaços de limão seco sob o negro duro das garrafas.

Aqueles olhos meus no pescoço do poldro,
no seio trespassado de Santa Rosa adormecida,
nos telhados do amor, com gemidos e mãos sem vergonha
num jardim onde os gatos comiam as rãs.

Sótão onde o velho pó junta estátuas e musgos.
Caixas que guardam silêncios de caranguejos devorados.
No sítio onde o sonho tropeçava na sua realidade.
Ali os meus pequenos olhos.

Não me perguntem nada. Já vi como as coisas
procuram a sua direção e encontram o seu vazio.
No ar deserto há uma dor de ausências
e nos meus olhos pessoas vestidas, sem nudez!

Nova Iorque num poeta. trad. António Moura. Hiena Editora, 1995.

22 de fev. de 2014

Criança lendo de Walter Benjamim

                                                                                                                                                                                                  Bruegel


Da biblioteca da escola recebe-se um livro. Nas classes inferiores é feita uma distribuição. Só uma vez e outra ousa-se um desejo. Muitas vezes vêem-se livros cobiçosamente desejados chegar a outras mãos. Por fim, recebia-se o seu. Por uma semana estava-se inteiramente entregue ao enredo do texto, que envolvia branda e secretamente, densa e incessantemente como flocos de neve. Dentro dele se entrava com confiança sem limites. Quietude do livro que seduzia mais e mais! Cujo conteúdo nem era tão importante. Pois a leitura caía ainda no tempo em que se inventavam histórias para si próprio na cama. Seus caminhos semi-encobertos de neve a criança rastreia. Ao ler, ela mantém as orelhas tapadas; seu livro fica sobre a mesa alta demais e uma das mãos fica sempre pousada sobre a folha. Para ela as aventuras do herói são legíveis ainda no redemoinho das letras como figura e mensagem no rodopiar dos flocos. Sua respiração está no ar dos acontecimentos e todas as figuras lhe sopram. Ela está misturada entre as personagens muito mais de perto do que o adulto. É indizivelmente concernida pelo acontecer e pelas palavras trocadas e, quando se levanta, está totalmente coberta pela neve do lido.
BENJAMIN, W. Obras Escolhidas II - Rua de mão única. p.37.

Erva-cidreira (Lippia alba) Cidrão, erva-cidreira, alecrim-do-mato, carmelitana, chá-da-febre, cidreira-do-campo, erva-cidreira, falsa-melissa, melissa



Lippia alba

Lippia alba

Lippia alba

Lippia alba

21 de fev. de 2014

Tillandsia










Tillandsia L. é um género botânico pertencente à família Bromeliaceae, subfamília Tillandsioideae.

São plantas aéreas e a maioria habita as árvores e absorve seus nutrientes e umidade do ar, através de escamas prateadas. São mais de 400 espécies e é o género que apresenta o maior número de espécies espalhadas pelas Américas.

São encontradas em desertos, bosques e montanhas da América Central, América do Sul, México e sul dos EUA. No Brasil existem cerca de 40 diferentes espécies de Tillandsia.

O gênero Tillandsia foi nomeado por Carolus Linnaeus em 1738 em honra ao médico e botânico finlandês Dr. Elias Erici Tillandz (originalmente Tillander) (1640-1693).

As espécies verdes requerem um clima temperado-chuvoso e crescem geralmente na sombra, na terra ou sobre árvores. As variedades verdes carecem de tricomas.

Em contraste, quase todas as espécies de tillandsias cinzas crescem em áreas sub-úmidas ou sub-áridas com alta umidade atmosférica. Preferem o sol, por isso crescem nas partes mais altas do bosque ou em rochas. Muitas destas variedades são epífitas.

Como plantas que praticamente carecem de raizes tem uma forma de vida muito peculiar. Sua aparência cinza resulta do fato de seus talos e folhas estarem cobertas por pequenas escamas (tricomas), que são pêlos complexos produzidos pela epiderme das folhas e talos. Estas morrem e se enchem de ar, refletindo a luz.

As tillandsias se reproduzem - como outras bromélias - de duas maneiras:

Por polinização e produção de sementes. As tillandsias não se autofecundam, e o pólen deve ser captado de outra planta de mesma espécie.
Por brotação. A partir do talo da planta mãe nascem brotos que produzem novas plantas, geralmente após a floração. Estes podem ser destacados para crescerem isoladamente ou deixados junto a planta mãe para formarem uma colônia.

Tillandsia é uma planta de interior de aspecto atraente, se desenvolvendo bem no interior de casas ou estufas. Não necessitam de solo, já que a água e os nutrientes são absorvidos através das folhas. A planta utiliza as raízes somente para fixação.

Tillandsia epífitas sobre uma árvore.
Luz: Preferem luz indireta ou difusa no verão e sol direto no inverno.
Ar: Ar fresco e de movimento suave.
Água: Preferem água de chuva, porém podem ser molhadas com água potável. No verão é necessário borrifá-las diariamente.
Temperatura. São muito sensíveis à temperaturas baixas. A temperatura ideal de manutenção é entre 32°C e 10°C.
Alimentação: Devem ser fertilizadas quinzenalmente com um adubo diluído.
Fixação: Devem ser fixadas em materiais de origem vegetal como madeira, troncos de árvores, xaxim, etc.
Floração: Após a floração é recomendável permitir a criação e desenvolvimento dos brotos para a formação de uma colônia.
Sinonímia

Anoplophytum Beer
Caraguata Adans.
Renealmia L.
fonte: Wikipedia 

Valsa Brasileira :: Chico Buarque e Edu Lobo



Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
A ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Pra encostar no teu

Subia na montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer
E pela porta de trás
Da casa vazia
Eu ingressaria
E te veria
Confusa por me ver
Chegando assim
Mil dias antes de te conhecer

https://www.youtube.com/watch?v=Gx7EW-l9erg&feature=kp

20 de fev. de 2014

SAUDADE :: Livia Garcia Roza


Na minha casa vive escondida uma saudade. 
Às vezes ela aparece, suspira, 
e retorna ao seu lugar de paz.

Sorri-se - Alice Ruiz

Wallace Ting

Quando disse na saída,
deixo meu sorriso
disse bem,
até sorrir pra você
não vou sorrir pra mais ninguém
também disse,
o que se deixa é o que permanece
não esqueça essa sou eu,
que agora desapareceu
E se mais não disse, é que sorria
um sorriso que ficasse,
para depois de ter ido
como se nunca partisse,
como se tudo existisse
ah! se eu soubesse,
ah! se você me visse


Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...