Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
23 de mar. de 2015
Pampas :: Everardo Norões (Crato, Ceará )
as paisagens,
a cortarem geometricamente
nossas rotinas.
As curvas senoidais
das serras,
as retas dormentes
das planícies.
E nós:
pequenos pontos
num papel rasgado.
22 de mar. de 2015
Que chova jasmim :: RONNY SOMECK
Fairuz ergue os lábios
para o céu.
Que chova jasmim
sobre todos que se conheceram
e não sabiam que estavam apaixonados.
Eu a ouvia cantar no Fiat de Muhammad,
ao meio dia na rua Ibn Gabirol:
Uma cantora libanesa a cantar num carro italiano,
conduzido por um poeta árabe de Baqa-al-Gharbiyye,
numa rua com o nome de um poeta hebraico da Espanha medieval.
E o jasmim?
Se cair dos céus do Armagedom
virará
por um instante
uma verde
luz
no próximo cruzamento.
21 de mar. de 2015
Andar para aprender de Lídia Jorge
Kendall Kessler
“Pois no meu caso, decorar sempre significou caminhar com um papel na mão, os olhos semicerrados, repetindo alto, até uma parte das falas ficar gravada no corpo. Decorar sempre consistira em impregnar de palavras o organismo inteiro, transformando-as numa coisa orgânica, uma coisa carnal. As plantas dos meus pés em movimento sempre serviram de máquina de impregnação de palavras. Os meus braços, as minhas mãos em movimento, unidos, sempre souberam mais do que o meu pensamento. A minha memória sempre foi alguma coisa mais ampla do que um tecido associado ao labirinto do cérebro, tendo a fixação muito mais a ver com os músculos do que propriamente com um processo mental. Andar, andar para apreender, repetir, decorar junto ao mar.”O Belo Adormecido, Dom Quixote
20 de mar. de 2015
Cartas de Meu Avô :: Manuel Bandeira
A tarde cai, por demais
Erma, úmida e silente…
A chuva, em gotas glaciais,
Chora monotonamente.
E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.
Enternecido sorrio
Do fervor desses carinhos:
É que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio.
Cartas de antes do noivado…
Cartas de amor que começa,
Inquieto, maravilhado,
E sem saber o que peça.
Temendo a cada momento
Ofendê-la, desgostá-la,
Quer ler em seu pensamento
E balbucia, não fala…
A mão pálida tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também.
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