21 de mar. de 2007

O MOCHO E A COTOVIA :: JESÚS SEPÚLVEDA ( (Santiago de Chile, 1967)

Bosh 
O mocho lê William Carlos Williams em espanhol
A cotovia um artigo sobre Pinochet em inglês

O mocho e a cotovia dormem juntos todas as noites do ano
Preparam cuidadosamente a ceia

Dançam tango / Tomam café
Jamais se embriagam nem fumam em excesso

Correm quatro ou cinco vezes por semana
Ele deixou o cigarro ela o estresse

O mocho se emociona quando escuta Gardel 
Não importa que fosse argentino ou cafetão de bairro

A cotovia dança como louca 
quando toca no estéreo Ani di Franco (seu último CD) 
Move os braços
Canta

O mocho se veste de negro
A cotovia lustra seus sapatos
Há manhãs muito geladas quando correm com suas luvas

Ninguém sabe matemáticas
Quantos quilômetros são 6 milhas?
E quantos pares são três moscas?

Neste poema o mocho sai primeiro
A cotovia corre ao banho
Todas as manhãs caem maçãs 
Na lua não há maçãs

A cotovia chama no telefone
Corre ao supermercado / Compara os preços 
O mocho limpa

E trabalham / sim que trabalham
Duro todo o ano 
Dormem da noite à manhã 
Depois trabalham

Comem pão / Bebem vinho
Com a ceia se alimentam

O general faz artesanato com a morte
Williams emudece

O mocho e a cotovia dormem
Correm

Se protegem do frio
e da inquietude

O mocho e a cotovia
Às vezes há dias em que dói despertar



Tradução: Claudio Daniel


 mocho ou  coruja :  Ambos são aves de rapina noturnas, têm hábitos semelhantes e pertencem à mesma ordem (Strigiformes) e à mesma família (Strigidae). 

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