Relógio de Salvador Dalí
No estacionamento da Faculdade de Medicina
em Belo Horizonte
(lugares muito amados têm seus nomes),
entre os imensos fícus não acho,
lugar nenhum, meu carro.
Caminho incessante noite adentro –
o que procuro?
Talvez não busque nada ou, quem sabe,
só queira descansar nesse cenário.
Compassado caminho, luz e sombra,
o sol penetra a ramagem densa.
Escuto os meus passos sobre as folhas,
ninguém a habitar aquele espaço.
Carrego em minhas mãos pequenos seixos,
meus dentes se quebraram em pedaços.
E vago, desdentada, labirinto,
as mãos bem juntas, para que não caia
pedaço algum que possa ser colado.
Súbito percebo, não são dentes –
um brilho de metal faísca à vista.
Pequenas engrenagens de relógio
aguardam, impossível, o conserto
do tempo que se foi, já desmontado.
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