14 de mar. de 2012

Licença de Débora Siqueira Bueno



Quando nasci eu era roxa. 
Não sei se havia anjos 
mas respirei fundo, 
recebi minha missão. 

Falta de ar conheço bem, 
me ensinou a espera. 
Falta de amor graças a Deus não tive muita, 
no ter e não ter fui me fazendo. 

Tão sempre a falta. 
Apesar das pernas das moças, 
despeito o cheiro bom dos moços, 
desejo, de contínuo se escapa. 

Meu nome quer dizer abelha – 
aquela que sempre trabalha. 
Desde o tempo que a memória alcança 
amanheço e entardeço no cuidado. 

Parece dom, mas é sina mineral 
buscar o que advém e é profundeza; 
separar pedra e entulho, encontrar beleza 
oculta na vastidão do sofrimento. 

Quero traçar de novo o meu destino, 
peço licença pra mudar de lavra. 
De agora em diante, carrego a bateia 
para lidar no garimpo das palavras.

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