23 de fev. de 2013

Mínima poética de Paulo Henriques Britto


Poesia como forma de dizer

o que de outras formas é omitido—

não de calar o que se vive e vê 

e sente por vergonha do sentido. 

Poesia como discurso completo, 

ao mesmo tempo trama de fonemas, 

artesanato de éter, e projeto 

sobre a coisa que transborda o poema 

(se bem que dele próprio projetada). 

Palavra como lâmina só gume 

que pelo que recorta é recortada, 

cinzel de mármore, obra e tapume: 

a fala —esquiva, oblíqua, angulosa- 

do que resiste à retidão da prosa. 


De Mínima lírica (1989) [ metapoesia ]

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