18 de mar. de 2013

A estrada, como uma senhora de Fernando Pessoa

A estrada, como uma senhora,
Só dá passagem legalmente.
Escrevo ao sabor quente da hora
Baldadamente.

Não saber bem o que se diz
É um pouco sol e um pouco alma.
Ah, quem me dera ser feliz.
Teria isto, mais a calma.

Bom campo, estrada com cadastro,
Legislação entre erva nata.
Vai atar a alma com um nastro
Só para ver quem ma desata.

31-8-1930
Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990). - 183.


Nastro: Fita estreita de linho, algodão ou outro fio.

Nenhum comentário:

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...