6 de mai. de 2013

Arte poética II de Sophia de Mello Breyner Andresen


A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é uma arte do ser.
Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede.
Nem me pede uma ciência nem uma estética nem uma teoria.
Pede-me antes a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu possa controlar.
Pede-me uma intransigência sem lacuna.
Pede-me que arranque da minha vida que se quebra, gasta, corrompe e dilui uma túnica sem costura.
Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre, que nunca me esqueça.
Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa e compacta.

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