21 de ago. de 2013

A casa de Natércia Freire


A Casa. Há-de o meu ser
Afeiçoar-se à Casa.
Como a pedra ao escultor,
A palavra ao poeta.
Nos silêncios, no escuro,
Nos sonos e nos sonhos,
Sugada pela casa,
Estarei presente em tudo.

Os recados de luz,
Os contos de Chopin,
Recolhem-me no espaço,
Adejam-me sem data.

Um murmúrio de amor
Saltita na penumbra
Das vozes juvenis.
Junto do toucador
Há uma tarde feliz.

Espreito as sombras na hora
Em que a Casa é deserta
Alguém deixou no Tempo
A grande porta aberta...

O mármore, a madeira,
As flores, a terra, a água,
O pássaro cantor e as lanternas
Da escada,
Houve um dia em que sim,
Nasceram e ficaram
Como quem abre a luz
Numa sala arrumada.

A Casa vê o Tejo.
Debruça-se à varanda,
Quer-me levar consigo...

Não sou fácil nem mansa.

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