6 de ago. de 2013

UM CASAQUINHO PRETO de Manuel António Pina


Como podia saber que vivia 
num lugar tão distante 
e numa casa tão grande?
Que a mãe me falava 
de debaixo da terra,
e que o seu rosto era
uma sombra passada 
sobre mim debruçada? 
Que o seu nome me chamava
e eu já lá não estava, 
porque tinha crescido 
e porque tudo crescera comigo:
a casa, o quarto, os livros, 
até o céu crescera 
e se afastava;
e que eu próprio era 
uma recordação 
de que já mal me lembrava?


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