8 de nov. de 2013

Canto esponjoso de Carlos Drummond de Andrade

Richard Pousette-Dart
Bela
esta manhã sem carência de mito,
E mel sorvido sem blasfêmia.

Bela 
esta manhã ou outra possível, 
esta vida ou outra invenção, 
sem, na sombra, fantasmas. 

Umidade de areia adere ao pé. 
Engulo o mar, que me engole. 
Valvas, curvos pensamentos, matizes da luz 
azul 
completa 
sobre formas constituídas. 

Bela 
a passagem do corpo, sua fusão 
no corpo geral do mundo. 
Vontade de cantar. Mas tão absoluta 
que me calo, repleto.

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