29 de jan. de 2014

O unicórnio de Hilda Hilst

Gauguin 

Então, o que é a vida? E não pude chegar a nenhuma conclusão excepcional, apenas admiti que a vida é uma coisa que pode encher o nosso coração de mel e girassóis. Nossa, que otimismo! E por que girassóis? Porque sinto uma alegria absurda quando vejo um girassol e acho que os girassóis também são uma coisa absurda porque não há nada tão amarelo, tão delicado dentro daquela aparência de flor superfortaleza, não há nada mais comovente do que ver um girassol de manhãzinha bem cedo. E ainda que não houvesse manhãs e sol, o girassol continuaria a ser para mim uma coisa de alegria absurda. Se não houvesse sol, o girassol seria amarelo? Não sei, isso é um problema da física, da ótica, da vida? Não sei, mas ainda que o girassol fosse roxo ou vermelho, para mim ele sempre seria amarelo absurdo. Pois bem, eu estava dizendo que a vida é uma coisa que pode encher o nosso coração de mel e girassóis. É isso. E não pude ir mais adiante. Fiquei um pouco triste de não descobrir uma nova maneira de dizer qualquer coisa de mais fundo a respeito da vida. Depois pensei: quando foi que o meu coração se encheu de mel e girassóis? Olha, eu tenho vergonha de dizer mas vou dizer, vocês vão achar que é bobagem, mas sabem? Sabem, eu gosto muito de escrever, ninguém publica mas eu gosto e, bem, eu vou dizer logo: eu escrevi um conto uma vez e depois que eu acabei o conto eu senti que o meu coração se encheu de mel e girassóis. Um conto? Então lê pra nós. Verdade? Vocês querem ouvir! É verdade? Eu vou buscar.

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