18 de set. de 2014

Gosto de Ícaro :: Tjiske Jansen

Odilon Redon

Gosto de Ícaro que sabia que a cera se iria derreter e no entanto voou em direção ao sol.
Gosto daquela rapariga que reparou como era azul a barba do Barba Azul – era exatamente esse o motivo. Gosto da Bela Adormecida que afinal fazia de conta que dormia.

Gosto da Branca de Neve que achava os anões um bando de neuróticos.
‘Quem é que se sentou na minha cadeira? Quem é que comeu do meu prato?’
E do anão, que não simpatizava lá muito com a Branca de Neve:

‘Quando ela não morava aqui, éramos só sete. E agora? É ver-nos.’
Do gigante que estava arreliado porque toda a gente chamava botas aos seus sapatos.
Não gosto de quem se acomoda no conto. Mas sobretudo

Gosto de Ícaro que sabia que a cera se iria derreter e no entanto voou em direção ao sol.

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