7 de mai. de 2015

Paranapiacaba, um dia :: Fabiano Calixto

Chegamos à av. Fox
um vento gelado no rosto
as árvores como tigres espreitando
pelas venezianas
no céu, gigantescas filandras glaciais
uma tarde trincada por relâmpagos

(cerveja gelada, arroz, peixe e batata frita,
sentados ao terraço (de uma arquitetura
perdida), assistimos aos 
casais do século XIX, que adentravam
o baile do Clube Lira Serrano
com seus fraques e vestidos de gala,
rostos alegres e mãos dadas, 
tomados de névoa – a mesma
com a qual se vestem os mortos
e as fotografias antigas)

a mata atlântica  abraçava o velho casarão
que cultivava, sem barulho, seus fantasmas
(que, por sua vez, guardavam, incansáveis, 
os pequenos dias que iam embora
no sótão, junto aos vagões
que, como aqueles, também partiriam para sempre
- os dias, com suas espinhas, seus numerais vagos,
a ilusão suprema do fim de todo o mal;
os vagões, sua pele planejada, sua tinta
coroando a labuta, seus personagens complexos
a esconder sob os cílios tantas, paisagens)

como dois casais de navegantes do tempo,
como, quando crianças, nos velhos seriados de TV,
como pequenas iguarias no estômago de um deus faminto,
como quatro pares de asas tornando o planeta mais leve,
escrevemos nossos nomes, inscrevemos nossos risos
(por puro acidente) naquele dia
na história do Ocidente



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