28 de ago. de 2015

Zona Hermética :: Manoel de Barros

Frida Kahlo, 1945
De repente, intrometem-se uns nacos de sonhos;
Uma remembrança de mil novecentos e onze;
Um rosto de moça cuspido no capim de borco;
Um cheiro de magnólias secas.
O poeta procura compor esse inconsútil jorro;
Arrumá-lo num poema; e o faz.

E ao cabo Reluz com a sua obra.
Que aconteceu? Isto: O homem não se desvendou, nem foi
atingido: Na zona onde repousa em limos
Aquele rosto cuspido e aquele
Seco perfume de magnólias,
Fez-se um silêncio branco... E, aquele
Que não morou nunca em seus próprios abismos
Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas
Não foi marcado.
Não será marcado.
Nunca será exposto
Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao
poema.


POESIAS, 1956,
in Gramática Expositiva do Chão

Nenhum comentário:

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...