27 de nov. de 2015

Declaração de Amor :: Luis Fernando Veríssimo

Tentei dizer o quanto te amava, aquela vez, baixinho.
Mas havia um grande berreiro, um enorme burburinho.
E, pensando bem, o berçário não era o melhor lugar.
Você de fraldas, uma graça, e eu pelado.
Lado a lado, cada um recém-chegado.
Você sem saber ouvir, eu sem saber falar.
Tentei de novo, lembro bem, na escola.
Um PS no bilhete pedindo cola.
Interceptado pela professora como um gavião.
Fui parar na sala da diretora e depois na rua.
Enquanto você, compreensivelmente, ficou na sua.
Curta é a vida, longa é a paixão.
Numa festinha, ah! nossas festinhas, disse tudo:
" Eu te adoro, te venero, na sua frente fico mudo".
E você não disse nada. E você não disse nada.
Só mais tarde, de ressaca, atinei.
Cheio de amor e Cuba Libre, me enganei.
E disse tudo para uma almofada.
Gravei em vinte árvores, quarenta corações.
O teu nome, o meu, flechas e palpitações.
No mal-me-quer, bem-me-quer, dizimei jardins.
Resultado: Sou persona non grata.
Corrido aos gritos de "Mata-mata!".
Por ambientalista, ecólogos e afins.
Recorri em desespero ao gesto obsoleto:
" Se não me segurarem, faço um soneto!"
E não é que fiz, e até com boas rimas?
Você não leu e nem sequer ficou sabendo.
Continuo inédito e por teu amor sofrendo.
Mas fui premiado num concurso em Minas.
Comecei a escrever com pincel e piche.
Num muro branco, o asseio que se lixe.
Todo meu amor para tua ciência.
Fui preso, aos socos, e fichado.
Dias e mais dias interrogado:
Era PC, PC do B ou alguma dissidência?
Te escrevi com lágrimas, sangue, suor e mel.
(você devia ver o estado do papel)
Uma carta longa, linda e passional.
De resposta nem uma cartinha.
Nem um cartão, nem uma linha...
Vá se confiar no Correio Nacional!
Com uma serenata, sim uma serenata.
Como nos tempos da Cabloca Ingrata.
Me declararia, respeitando a métrica.
Ardor, tenor, a calçada enluarada...
Havia tudo sob tua sacada.
Menos tomada para a guitarra elétrica.
Decidi então, botar a maior banca.
No céu escrever com fumaça branca:
" Te amo, assinado..." e meu nome bem legível.
Já tinha avião, coragem, brevê.
Tudo para impressionar você.
Mas veio a crise, faltou combustível.
Ontem você me emprestou seu ouvido.
E na discoteca, em meio ao alarido.
Despejei meu coração.
Falei da devoção há anos entalada.
E você disse " Não tô escutando nada".
Curta é a vida, longa a paixão.
Na velhice, num asilo, lado a lado.
Em meio a um silêncio abençoado.
Direi o que sinto, meu bem.
O meu único medo é que então
Empinando a orelha com a mão
Você só me responda: " Hein?"

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