Vi-te pela primeira vez debaixo do quadro electrónico.
Que se agitava e movia como uma roda da sorte;
novos horários, comboios extra, locais para onde viajar.
Tinhas ficado à espera, mesmo sem saberes do quê,
disseste-mo essa noite sob as estrelas que
observávamos através da janela do sótão.
Como se o fim estivesse adaptado à forma
contida nele desde o início, veio uma manhã
em que te foste embora. Murmuraste ainda algo
sobre cometas que não sabem onde a trajectória os leva.
Levei-te à estação. O átrio parecia agora muito maior,
a luz incidia de forma estranha – vi-te pela última vez
debaixo do quadro electrónico, que matraqueava destinos
como se o tempo tivesse ficado suspenso. Olhaste para cima,
escolheste um cais longínquo. A escada rolante engoliu-te.
Ninguém se voltou para olhar para trás.
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