25 de jun. de 2016

Apreender com as palavras a substância mais nocturna :: António Ramos Rosa

Apreender com as palavras a substância mais nocturna é o mesmo que povoar o deserto com a própria substância do deserto
Há que voltar atrás e viver a sombra enquanto a palavra não existe ou enquanto ela é um poço ou um coágulo do tempo ou um cântaro voltado para a sua própria sede
Talvez então no opaco encontremos a vértebra inicial para que possamos coincidir com um gesto do universo e ser a culminação da densidade
Só assim as palavras serão o fruto da sombra
e já não do espelho ou de torres de fumo
e como antenas de fogo nas gretas do olvido
serão inicialmente matéria fiel à matéria


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