4 de jun. de 2017

Houve morte na casa ali defronte :: Emily Dickinson (1830-1886)

Houve morte na casa ali defronte —
Foi hoje, coisa recente;
Eu sei por esse ar de anestesia
Que dessas casas recende.

Vizinhos em sussurros entram e saem,
De carro afasta-se o médico,
Uma janela se abre como vagem,
De modo abrupto, automático,

E por ela atiram fora um colchão.
Crianças passam correndo —
Intrigadas — "foi ali que morreu?"
Eu ficava assim, me lembro.

Formal e teso vai entrando o clérigo,
Qual se sua a casa fosse —
Hoje são dele todos os que choram
E das crianças toma posse.

Vem o homem do armarinho — e aquele homem
Da horrorosa profissão —
O que toma as medidas para a casa.
Vai haver a soturna procissão —

Vão vir os coches, as franjas douradas
Sem nem cartaz ou rumor,
Corre fácil a intuição das notícias
Nas vilas do interior.

(c. 1862)




There's been a Death, in the Opposite House,
As lately as Today —
I know it, by the numb look
Such Houses have — alway —

The Neighbors rustle in and out —
The Doctor — drives away —
A Window opens like a Pod —
Abrupt — mechanically —

Somebody flings a Mattress out —
The Children hurry by —
They wonder if it died — on that —
I used to — when a Boy —

The Minister — goes stiffly in —
As if the House were His —
And He owned all the Mourners — now —
And little Boys — besides —

And then the Milliner — and the Man
Of the Appalling Trade —
To take the measure of the House —
There'll be that Dark Parade —

Of Tassels — and of Coaches — soon —
It's easy as a Sign —
The Intuition of the News —
In just a Country Town —

tradução: Aíla de Oliveira Gomes

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