William J. McCloskey
Eu não sou pintor, sou poeta.
Por que? Eu acho que preferiria
ser pintor, mas não sou. Bem,
por exemplo, Mike Goldberg
está começando uma pintura. Eu apareço.
“Senta e toma uma bebida” ele
diz.Eu bebo; bebemos. Eu olho
para cima. “Você pôs SARDINHAS nela.”
“Sim, ela precisava de algo ali.”
“Oh”. Eu me vou e os dias passam
e eu apareço de novo. A pintura
está indo, e eu vou, e os dias
passam. Eu apareço. A pintura
está pronta. “Cadê SARDINHAS?”
Só restaram algumas
letras, “Era demais”, Mike diz.
Mas eu? Um dia estou pensando em
uma cor: laranja. Eu escrevo um verso
sobre laranja. Em breve será uma
página toda de palavras, não versos.
Então outra página. Deveria haver
tanto a mais, não de laranja, de
palavras, de como laranja é terrível
e a vida. Os dias passam. Está até em
prosa, eu sou um poeta de verdade. Meu
poema terminou e ainda não mencionei
laranjas. São doze poemas, eu chamo
de LARANJAS. E um dia na galeria
eu vejo a pintura de Mike, chamada SARDINHAS.
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