Carolina Whitaker
Rick se preocupava com a escada que precisava galgar para alcançar o mundo dos sonhos. Nãoprecisava de escada. Ele já estava lá. No Jardim Zoológico, neste domingo azul, a girafa olha do
alto para as crianças, e parece convidá-las a um passeio no dorso. Há uma escada perto, e se
for encostada ao animal, Ricardo (Rick é o seu apelido) poderá chegar até lá.
O garoto mede a distância que vai do chão ao lombo, e julga-se em condições de vencê-la.
Uma vez lá em cima, cavalgando o pescoço, e segurando-lhe os chifres, pedirá à girafa, depois
de umas voltas pelo Jardim, que o leve por aí, percorrendo o mundo.
Presa há tanto tempo, a girafa há de estar ansiosa de liberdade. Não será difícil transpor a
cerca. Ela espera que Rick lhe proponha a aventura. Ninguém se atreveria a travar-lhe os
passos. E Rick vai dirigi-la nos rumos que aprendeu no atlas escolar.
O problema é descer de vez em quando, para Rick alimentar-se de biscoitos, fazer
necessidades e dormir. Camarada, a girafa irá se deitando aos poucos, primeiro dobrando
devagar as pernas, depois se inclinando lentamente para o lado, e afinal arriando com
suavidade a carga infantil.
Mas para subir outra vez, como se arranjaria ele? Escada não haverá. Mesmo deitada, a girafa
é difícil de subir. A imaginação não lhe fornece recurso plausível. O sonho frustou-se. Rick
levanta o braço direito e, com a mão espalmada em gesto de adeus à girafa que gentilmente o
convidara, esclarece:
— Muito obrigado! Fica para outra ocasião, quando eu crescer.
Àtica Editora, 2001
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