Odilon Redon
(...) a dura luta
que diariamente se enceta contra a grandeza, nossa grandeza
mortal; representando a luta que diariamente com coragem
se enceta contra a nossa bondade, porque a bondade real é
uma violência; representando a luta diária que encetamos
contra a nossa própria liberdade, que é grande demais e que,
com minucioso esforço, diminuímos; nós, que somos tão
objetivos que terminamos sendo de nós mesmos apenas
aquilo que tem uso; com aplicação, fazemos de nós o homem
que um outro homem possa reconhecer e usar; e por
discrição, ignoramos a ferocidade de nosso amor; e por
delicadeza, passamos ao largo do santo e do criminoso; e
quando alguém fala em bondade e sofrimento, abaixamos
olhos ignorantes, sem dizer uma palavra em nosso favor;
aplicamo-nos em dar de nós o que não espante, e quando se
fala em heroísmo não entendemos.
Lispector, Clarice. A maçã no escuro. 1973.
Nenhum comentário:
Postar um comentário