que nome dar ao instante
em que na madrugada desperto
e começo a remoer um problema
que imenso me atordoa
em estado de assombração
no insone labirinto nevoento
do travesseiro?
logo imagino meus antepassados
agitados como eu
aflitos no meio da noite
a tempestade desabando sobre a fazenda
a dívida no banco corroendo-a
uma ameaça de morte
que nome dar ao medo
que os precipitava do sono inquieto
ao gelo úmido de lençóis
encharcados como os meus?
que natureza ansiosa antecipa-me
ao sol escuro dos despertadores
com os olhos pregados
como ovos estrelados no teto?
que nome terá o monstro da insônia
quando o pavor incerto de altas luas
recobre-me derramando essa prata
gelada e lenta sobre meus brios?
um filho doente, uma plantação danada
uma duplicata insolúvel
não há outro desejo nesse escuro
senão o de desinflamar o desespero
com o suor inquieto que derramo
pelo urro absurdo do boi atônito
em que aterrado me reconheço
na consciência solitária do matadouro.
Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
6 de dez. de 2017
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