14 de dez. de 2017

Armário :: Angela Carneiro



Arrumar o armário passei um bom tempo da vida pensando em arrumar o armário passei um tempo menor da vida realmente arrumando o armário E nesse arrumar de armário há um desarrumar de emoções coisas desaparecidas aparecem no armário, na mente, no coração Pouca coisa énecessária par se arrumar o armário um pequeno banco, uma grande cesta de lixo alguma criatividade muita boa-vontade e tempo o tempo passa ao se arrumar o armário passa-se o tempo ao contrário do sentido do relógio pensa-se o tempo Caixas e gavetas coisas acumuladas pastas, recortes, papéis, apostilas, assuntos ao arrumar a coleção empilhada a ampulheta da mente revira Por que guardei isso no armário e não na memória? Por que errei esta questão na prova de história? Lixo! A bola de ping-pong o gordo atirou na prova de geometria com a área do círculo ao redor Lixo! Um papel dobrado como gaivota apenas a palavra azul desenhada a pena (ai, esse tempo que não volta e dá voltas!) E um pouco do passado é rasgado e jogado na cesta de lixo Tudo é novamente selecionado e novamente guardado no armário e na mente armariamente mente novamente armada armário novamente limpo tentativa de organizar a memória e o quarto por pouco tempo pois mais um quarto da vida será passado pensando-se em arrumar o armário.

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