Eu sou o rio dos mortos
dos meus parentes mortos
e os meus mortos são o mundo inteiro
eu sou o rio dos mortos
nasci da sede pelo dó das lágrimas
quando mortos todos os pensamentos
eu sou o rio dos mortos
me criei no pântano das palavras
dos restos tudo trago
eu sou o rio dos mortos
minha carne é das nuvens
se fujo só dou em mim
eu sou o rio dos mortos
e o meu choro o que devolve à terra
o chão do sal da terra o chão
eu sou o rio dos mortos
minha margem de árvores
dos astecas que me sangraram
eu sou o rio dos mortos
da terra não passo
e ninguém me ultrapassa sem desvão.
Fonte: Cantos de estima
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