8 de abr. de 2021

O proscrito :: Maria Firmina dos Reis

Vou deixar meus pátrios lares,

Alheio clima habitar.

Ver outros céus, outros mares,

Noutros campos divagar;

Outras brisas, outros ares,

Longe do meu respirar...


Vou deixar-te, oh! Pátria minha,

Vou longe de ti - viver...

Oh! Essa ideia mesquinha,

Faz meu dorido sofrer;

Pálida, aflita rolinha

De mágoas a estremecer.


Deixar-te, pátria querida.

É deixar de respirar!

Pálida sombra, sentida

Serei - espectro a vagar:

Sem tino, sem ar, sem vida

Por esta terra além - mar.


Quem há de ouvir-me os gemidos

Que arranca profunda dor?

Quem há de meus ais transidos

De virulento amargor,

Escutar - tristes, sentidos,

Com mágoa, com dissabor?


Ninguém. Um rosto a sorrir-me

Não hei de aí encontrar!...

Quando a saudade afligir-me

Ninguém irá me consolar;

Quando a existência fugir-me,

Quem há de me prantear?


Quando sozinho estiver

Aí à noite a cismar

De minha terra, sequer

Não há de brisa passar,

Que agite todo o meu ser,

Com seu macio ondular...


Cantos à beira-mar e Gupeva. 1a Edição atualizada 2017, p. 104, 105.

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