Vou deixar meus pátrios lares,
Alheio clima habitar.
Ver outros céus, outros mares,
Noutros campos divagar;
Outras brisas, outros ares,
Longe do meu respirar...
Vou deixar-te, oh! Pátria minha,
Vou longe de ti - viver...
Oh! Essa ideia mesquinha,
Faz meu dorido sofrer;
Pálida, aflita rolinha
De mágoas a estremecer.
Deixar-te, pátria querida.
É deixar de respirar!
Pálida sombra, sentida
Serei - espectro a vagar:
Sem tino, sem ar, sem vida
Por esta terra além - mar.
Quem há de ouvir-me os gemidos
Que arranca profunda dor?
Quem há de meus ais transidos
De virulento amargor,
Escutar - tristes, sentidos,
Com mágoa, com dissabor?
Ninguém. Um rosto a sorrir-me
Não hei de aí encontrar!...
Quando a saudade afligir-me
Ninguém irá me consolar;
Quando a existência fugir-me,
Quem há de me prantear?
Quando sozinho estiver
Aí à noite a cismar
De minha terra, sequer
Não há de brisa passar,
Que agite todo o meu ser,
Com seu macio ondular...
Cantos à beira-mar e Gupeva. 1a Edição atualizada 2017, p. 104, 105.
Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
8 de abr. de 2021
O proscrito :: Maria Firmina dos Reis
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