10 de mai. de 2021

O silêncio:: Pablo Neruda


12


Agora contaremos até doze

e ficaremos todos quietos.

Por uma vez sobre a terra

não falemos em nenhum idioma,

por um segundo nos detenhamos,

não movamos tanto os braços.


Seria um minuto flagrante,

sem pressa, sem automóveis,

todos estaríamos juntos

em uma quietude instantânea.


Os pescadores do mar frio

não fariam mal às baleias

e o trabalhador do sal

olharia suas mãos rotas.


Os que preparam guerras verdes,

guerras de gás, guerras de fogo,

vitórias sem sobreviventes,

vestiriam um traje puro

e andariam com seus irmãos

pela sombra, sem nada fazer.


Não confundam o que quero

com a inanição definitiva:

a vida é só o que se faz,

não quero nada com a morte.


Se não podemos ser unânimes

movendo tanto nossas vidas,

talvez não fazer nada uma vez,

talvez um grande silêncio possa

interromper esta tristeza,

este não nos entendermos jamais

este ameaçar-nos com a morte,

talvez a terra nos ensine

quando tudo parece morto

então tudo está vivo.


Agora contarei até doze

E você se cala e eu me vou.



 


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