4 de mar. de 2024

Por vezes, não raro... Eucanãa Ferraz

Por vezes, não raro,

basta um gesto, sua borracha,

um quase nada de alvaiade,

um rasgo e só.


No entanto, o carvão

de certas palavras,

de alguns nomes,

não se apaga fácil.


Afogá-lo, inútil:

o maralto traz

de volta cada sílaba

em sal fortalecida.


Enterrá-lo? Logo renascerá:

árvore alta, trigo, praga.

No fogo, irrompe a letra,

inda mais sólida liga.


Há que esperar do esquecimento

o dente miúdo

e lento roer a nódoa na língua,

o travo no peito.


in Dessassombro. Rio de Janeiro: Editora Sette Letras, 2002.

Nenhum comentário:

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...