existe uma ideia, partilhada inclusive pela psicanálise, de que "tudo tem um preço". embora aparentemente distante do "não existe almoço grátis", mote corporativo que me apavora, a noção é semelhante. tudo se baseia numa economia das relações, mesmo que, aqui, a palavra economia não esteja relacionada necessariamente a dinheiro, mas a uma lógica de trocas. nesse sentido, atos supostamente gratuitos, como a ajuda desinteressada a um próximo, seriam avaliados como interesse vaidoso, conquista de amor-próprio ou admiração do outro e até mesmo a "compra" de um bem imaterial.
não posso concordar. me parece que essa visão parte, a posteriori, de um pensamento já lastreado pelo economismo ou economicismo e não o contrário. se conseguirmos transcender para trás, involuirmos e não, como sempre, irmos necessariamente para a frente e para cima, mas para trás e para baixo, para os lados e para o entorno, descobriremos, acredito, a possibilidade de relações ao largo da ideia de retribuição, assim como dois macacos tirando piolhos um do outro. talvez ações brincadêiricas, jogantes, ridentes, desinteressadamente interessantes, partícipes de encontros circulares em que as trocas são dinâmicas e não devolutivas.
não significados, mas significantes que se relacionam quase autonomamente,
pensando.
Noemi Jaffe
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