16 de set. de 2024

SÁNDOR CSOÓRI :: POEMA A DUAS MULHERES AO MESMO TEMPO

Vocês vêm, tocam a campainha,

passando a maçaneta rapidamente de uma para a outra.

Tu, loira, enlutada, de preto,

ela em saia azul de jeans, puída,

como quem após semanas molhadas até aos ossos

estivesse a enxugar-se no Maio inteiro num topo de colina.

Contigo vem também o bosque, também o cemitério,

países, com uma sensualidade oculta,

o mel,

a imprecação;

a anarquia reprimida do álcool

e enxames de moscas loucas

que dançam loucamente sobre a tua cabeça.

E não há Inverno, se vires, não há Verão,

há só febre dentro das costelas, imenso azul

e palavras a despirem-se na boca.

Ela chega sempre de improviso, apenas como quem traz

uma boa nova, como se trouxesse notícias de si própria.

A sua pestana: caniço preto,

em redor das suas ancas de uma vez duas Primaveras

e a sua boca abre-se para sorrir: como se um

comboio branco

passasse silenciosamente.


Vocês vêm, tocam a campainha, rindo uma para a outra

não suspeitando quem é que é a outra:

se amiga, companheira?

se amiga, amante?

mulher de limpeza dos sonhos?

pois as vossas caras só eu as enfrento, egoisticamente,

e brinco, ocultamente, com as vossas mãos também

na mesma cama,

ao mesmo tempo,

na mesma ausência -

das covas secas do mundo

ponho-me a rir, separadamente, por vosso gosto

e não me entristece ser isso uma condenação:

na minha morte serei,

sem falta, indivisível.


Tradução: Pál Ferenc






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