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12 de jan. de 2015

CALEIDOSCÓPIO :: FLORA FIGUEIREDO


Pela fresta observo a dança das cores 
nos vidros recortados. 
Separam-se, aglutinam-se, 
desenham maravilhas 
Como se bailassem calçando sapatilhas. 
A cada movimento, uma surpresa, 
a mesma flor concebida com destreza, 
em seguida se espalha e se desfaz. 
Por trás de seu processo giratório, 
o caleidoscópio avisa: 
a forma é fugaz e imprecisa 
e o colorido de hoje é provisório. 

In:  O Trem Que Traz a Noite, 2000 


19 de dez. de 2013

As maravilhas de cada mundo - Clarice Lispector



Khnopff

 Tenho uma amiga  que simplesmente gosta de viver. Viver sem adjetivos. É muito doente de corpo, mas seus risos são claros e constantes. Sua vida é difícil, mas é sua.
     Um dia desses me disse que cada pessoa tinha em seu mundo sete maravilhas. Quais? Dependia da pessoa.
     Ela então resolveu classificar as sete maravilhas de seu mundo.
     Primeira: ter nascido. Ter nascido é um dom, existir, digo eu, é um milagre.
     Segunda: seus cinco sentidos que incluem em forte dose o sexto. Com eles ela toca e sente e ouve e se comunica e tem prazer e experimenta a dor.
     Terceira: sua capacidade de amar. Através dessa capacidade, menos comum do que se pensa, ela está sempre repleta de amor por alguns e por muitos, o que lhe alarga o peito.
     Quarta: sua intuição. A intuição alcança-lhe o que o raciocínio não toca e que os sentidos não percebem.
     Quinta: sua inteligência. Considera-se uma privilegiada por entender. Seu raciocínio é agudo e eficaz.
     Sexta: a harmonia. Conseguiu-a através de seus esforços, e realmente ela é toda harmoniosa, em relação ao mundo em geral, e a seu próprio mundo.
     Sétima: a morte. Ela crê, teosoficamente, que depois da morte a alma se encarna em outro corpo, e tudo começa de novo, com a alegria das sete maravilhas renovadas.
In: A descoberta do mundo. Editora Nova Fronteira, 1984. p. 443