Uma forma de arte particularmente cultivada em Veneza,
reconhecida ao menos desde o século 16, é a escultura de vidro. A ilha de
Murano é a maior responsável por essa produção.
Linhas de barcos para Murano partem do cais Fondamenta
Nuove, na parte norte de Veneza. Relativamente perto desse cais, está situada a
loja e estúdio de um dos mais reconhecidos artistas das esculturas de vidro:
Vittorio Costantini.
Apesar do renome, ele não é de Murano, mas da vizinha ilha
de Burano, famosa pelo rendado. Com seu maçarico, o artista foca em trabalhos
pequeninos e delicados. "A fragilidade faz o valor", ressalta o
artesão.
Rodeado por pilhas de livros de diferentes partes do mundo
-até mesmo do Japão- sobre animais, Vittorio Costantini sempre busca
representar a natureza, frequentemente pássaros, animais aquáticos ou insetos.
Quando é questionado sobre o tempo que leva para produzir
uma de suas obras, prefere ressaltar seus 55 anos de experiência -treina o
ofício desde os 11-, além de mostrar um pote cheio de tentativas que não deram
certo ou ensaios preparatórios, como pedaços do que poderia ser uma borboleta.
O artista não fala inglês, mas deixa o turista à vontade
para fotografar e observar seu processo de produção -esticando os tentáculos de
um polvo, por exemplo.
Seus trabalhos são mais caros que o habitual em outras
lojas, mas dá para obter algum por € 60. Uma complexa água-viva na loja chega a
ser orçada por € 3.000, e um colecionador já lhe ofereceu € 10 mil por uma
aranha em maior escala -oferta, diz ele, recusada, pois pertencia a sua coleção
pessoal.
Só é realmente difícil atravessar o labirinto de vielas e
pontes até chegar ao esconderijo do artista. A reportagem contou com a ajuda de
um eletricista morador da região, que consultou no computador o endereço (calle
del Fumo, 5.311) e guiou pessoalmente até lá.
Costantini não liga: diz que prefere ficar distante das
aglomerações das ruas principais para ter mais concentração. E ele nem mora em
Veneza, mas em outra cidade, no continente e com mais natureza, como aprecia.
Todo dia, caminha meia hora até a estação e depois leva mais quase uma hora de
trem para casa.(MAURICIO KANNO)
fonte: Folha de São
Paulo, Turismo -quinta-feira, 10 de novembro de 2011