4 de mar. de 2012

Amor-agarradinho, mimo-do-céu, amor-entrelaçado







Nome Científico: Antigonon leptopus
Sinonímia: Antigonon cordatum
Nome Popular: Amor-agarradinho, viuvinha, mimo-do-céu, coralita, cipó-coral, lágrima-de-noiva, rosália, rosa-da-montanha, cipó-mel, georgina, amor-entrelaçado, bela-mexicana
Família: Polygonaceae
Divisão: Angiospermae
Origem: México

Agora que sinto amor de Fernando Pessoa (Alberto Caieiro)


Agora que sinto amor
Tenho interesse no que cheira.
Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro.
Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova.
Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia.
São coisas que se sabem por fora.
Mas agora sei com a respiração da parte de trás da cabeça.
Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira.
Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver.

3 de mar. de 2012

Paisagem de Murilo Mendes

imagem de Vinicius Moreira

Manhã de claridade,
sinos vibrando na alma da gente,
o amor tão calmo me leva pela mão
nas ruas alinhadas da vida,
me mostra as colunas polidas do tempo,
festões cor-de-rosa,
ritmos equilibrados.
Sons de realejo na praça onde crianças jogam malha
e o ar fino de cheiro de madressilva e jasmins lavados,
água cantando na fonte mecânica, embalando a praça.
Até minha namorada que tem o corpo sólido
e a cara tristíssima
toma uns ares de garota e o mundo entra na ordem.

In Poesia Completa e Prosa

2 de mar. de 2012

Orquídeas Bulbophyllum




Bulbophyllum (em português: Bulbófilo) é um gênero botânico pertencente à família das orquídeas (Orchidaceæ).  
Etimologia: O nome do gênero (Bulb.) procede da latinização das palavras gregas: βολβος (bolbos), que significa "bulbo", "tubérculo", "raiz carnuda"; e φύλλον que significa "folha", aludindo à forma bulbosa das folhas da primeira planta descrita, folhas bastante espessas.
É o mais vasto e um dos mais complexos gêneros dentre as orquídeas, com cerca de duas mil espécies bastante diversas, distribuídas pelos trópicos de todos os continentes com predominância no sudeste africano e asiático. Somente na Nova Guiné há mais de quinhentas espécies descritas.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Adiada enchente de Mia Couto



Velho, não.
Entardecido, talvez.
Antigo, sim.

Me tornei antigo
porque a vida,
tantas vezes, se demorou.
E eu a esperei
como um rio aguarda a cheia.

1 de mar. de 2012

A alma escolhe sua companhia de Emily Dickinson


A alma escolhe sua companhia
E fecha a porta, depois.
Em sua augusta suficiência,
Cessam as intromissões.

Indiferente, vê as carruagens
Parando junto ao portão;
Indiferente, um rei de joelhos
Sobre suas alfombras.

Sei que, dentre uma vasta multidão,
Ela escolheu um ser apenas;
Depois, cerrou as aldravas de sua atenção,
Feito pedra.

In Poemas Escolhidos

Cedro do Líbano manuscrito da Lorena Rocha Hoff


29 de fev. de 2012

Mural de Adélia Prado



Recolhe do ninho os ovos a mulher
nem jovem nem velha,
em estado de perfeito uso.
Não vem do sol indeciso
a claridade expandindo-se,
é dela que nasce a luz 
de natureza velada,
é seu próprio gosto 
em ter uma família,
amar a aprazível rotina.
Ela não sabe que sabe,
a rotina perfeita é Deus:
as galinhas porão seus ovos,
ela porá sua saia,
a árvore a seu tempo
dará suas flores rosadas.
A mulher não sabe que reza:
que nada mude, Senhor.

Bonito de ver






28 de fev. de 2012

Recomendação de Goethe

imagem Pedro Ruiz


Ai, que deve o homem esperar?
É melhor ficar inerte?
É melhor viver sem leme?
A algum amor se aferrar? 
Deve em tenda residir? 
Ou uma casa edificar? 
Deve se fiar em rocha, 
Tão sujeita a vacilar? 
A cada um o seu tanto... 
Cada qual rume, com fé, 
Pense onde se fixar 
E não caia estando em pé.

Investigações de um cão de Franz Kafka


Andrew Wyeth 
Todo o conhecimento, a totalidade de todas as perguntas e respostas, está contida no cão.

As minhas interrogações servem apenas de aguilhão para mim mesmo. Só quero ser estimulado pelo silêncio que se ergue à minha volta como resposta derradeira. «Até quando conseguirás suportar o facto de que o mundo dos cães, tal como demonstram cada vez com mais evidência as tuas pesquisas, está para sempre votado ao silêncio? Até quando conseguirás suportar esta ideia?» Esta, esta é que é a verdadeira grande interrogação da minha vida, uma interrogação perante a qual as outras interrogações se tornam totalmente insignificantes. Uma interrogação que diz respeito apenas a nós próprios e a mais ninguém. Infelizmente, posso responder a esta interrogação com mais facilidade do que às interrogações específicas: aguentarei, provavelmente, até ao meu fim natural. A serenidade da velhice irá formando uma resistência cada vez maior a todas as interrogações inquietantes. Tudo indica que hei-de morrer em silêncio e rodeado de silêncio, na verdade até de forma específica, e antevejo isso com uma certa tranquilidade. Um coração admiravelmente resistente, pulmões que é impossível ficarem fracos prematuramente, foram-nos dados a nós, cães, como que por ironia. Assim, sobrevivemos a todas as interrogações, inclusive àquelas que colocamos a nós próprios, como autênticas fortalezas de silêncio que somos.
Franz Kafka, "Investigações de um cão"

27 de fev. de 2012

A senhora Clarinha de Agustina Bessa Luís



Em Fontelas de Cima, repentino sobrado do Alto Douro, ficava a venda da senhora Clarinha. Era uma mulher baixinha, minuciosa nas contas, pouco afeiçoada à clientela, mas mais correcta de maneiras do que éhabitual em patroa de balcão e locanda. A montra, feita duma janela ainda apresentável no seu parapeito verde, exibia maços de velas e lamparinas. A senhora Clarinha servia as necessidades das almas e outras que o não eram. Ela própria tinha a sua devoção pessoal a 5. Judas Tadeu; oferecia-lhe todos os meses um litro de azeite, do melhor, e um quilo de bolachas jazz band. Não que o santo, no seu pequeno soco de escaiola, demonstrasse apetite e gostos adamados. Quem comia as bolachas era o Tito, filho de sacristão e cara de Caim. Era um exemplo paleolitíco com aquela fauce bravia e os olhos juntos. Atirava pedradas aos carros, corria de rastos, tinha escon­derijo nas minas e nas pedreiras. Mas sabia o seu latim e tocava a Santos como se quisesse fazer cair as mura­lhas de Jericó. Enfim, havia prós e contras nesse cham­bão. No coro, com a opa de cetineta vermelha, estava regular; no adro, parecia ainda humano; na torre do sino, um morcego vampiro ou gárguia de Nôtre Dame. Vamos lá destrinçar as espécies e fazer paleontologia! O caso é outro.

A senhora Clarinha, numa manhã de Maio, recebeu uma carta extraordinária. Era dirigida aos devotos de S. Judas Tadeu e devia ser copiada duzentas vezes e mandada a outros tantos fiéis, a começar pelo nome que lhes era indicado. Porém o nome não constava na carta, e a senhora Clarinha achou-se embaraçada para cumprir aquela intimação; o que a punha em perigo gravíssimo. Interrompida a cadeia, caíam sobre ela desgraças impos­síveis de evitar, como incêndios, inundações, mortes de parentes e amigos. Ela estava muitíssimo apoquentada e fechou a loja antes das sete horas. Sentou-se numa cadeirinha de palha e pôs-se a pensar. Tinha algum dinheiro, nome honrado e uma vinha com o seu quartei­rão de oliveiras. A casa era dela, com duas salas com um fausto de vistas e uma coroa de bouças velhas em volta. Tinha de tudo na loja — fio de Norte, papos-secos, tesouras da poda. Também vendia grandes rebuçados de avenca, quase do tamanho de pires e embrulhados em papel de seda branco. Desde Fontelas de Cima até Moura Morta, eram famosos. A senhora Clarinha abanou tristemente a cabeça. Não tinha esperança de escapar à ter­rível ameaça que sobre ela desabara. O Tito, que vinha à noite trazer a canada do leite, encontrou-a meio transtornada e com a carta na mão.

— Lê o que aí diz — pediu ao rapaz. Ele juntou as letras, foi-se explicando.

— Duzentas vezes esta letania! Deite-a fora, não faça caso.

— A carta de S. Judas? Não se pode, é proibido.

Estava tão branca atrás do mostrador verde, que era como uma aparição. Um feixe de ráfia projectava atrás dela uma espécie de auréola loira. O Tito teve medo, e não era um moço acanhado. As ratoeiras a fogo, nos laranjais, já lhe tinham acertado nas pernas duas ou três vezes.

Em poucos dias, a senhora Clarinha morreu do aperto de alma em que estava. Não pôde mandar a ‘carta de S. Judas Tadeu’, e alguma coisa ‘tinha que lhe acontecer’ Deus nos livre do que o destino manda sem nos dar o direito de executar a sua ordem. Ai!

Datado: 10-8-1974

AGUSTINA BESSA LUIS, CONVERSAÇÕES COM DMITRI E OUTRAS FANTASIAS,

Inverso, A REGRA DO JOGO, 1979, p. 35

26 de fev. de 2012

E se escreve de Marguerite Duras


Chorar, é preciso que isto também aconteça.
Se chorar é inútil, mesmo assim creio que é preciso chorar. 
Pois o desespero é tangível. Perdura. 
A lembrança do desespero, isto perdura. 
Às vezes mata.
Escrever.
Não posso.
Ninguém pode.
É preciso dizer: não se pode.
E se escreve.
É o desconhecido que trazemos conosco: 
escrever, é isto o que se alcança. 
Isto ou nada.
Pode-se falar de uma doença da escrita.
in: Escrever. Rocco, p. 47

25 de fev. de 2012

Beija-flores de John James Audubon



John James Audubon (26 de abril de 1785 – 27 de janeiro 1851) foi um naturalista americano de origem francesa, especializado na ilustração científica de aves. O seu trabalho mais conhecido The Birds of America (As Aves da América em língua portuguesa) alcançou, durante a sua vida, sucesso comercial e trouxe-lhe enorme popularidade junto do público. O prestígio científico alcançado pela obra valeu-lhe elogios rasgados dos seus pares e permitiu-lhe tornar-se o segundo americano (depois de Benjamin Franklin) a ser incluido à seleta Royal Society britânica para as ciências.

24 de fev. de 2012

Anseios de Florbela Espanca

Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha cais!

Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais
Não valem o prazer duma saudade!

Tu chamas ao meu seio, negra prisão!…
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbre o brilho do luar!

Não ´stendas tuas asas para o longe…
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar!…

23 de fev. de 2012

Em algum lugar de E. E. Cummings

Tarsila do Amaral - Vaso com rosas (1919)

nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado,  eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas

( tradução: Augusto de Campos )

em algum lugar onde nunca estive, e felizmente aquém
de qualquer experiência, teus olhos guardam seu silêncio:
em teu gesto mais frágil há coisas que me envolvem
ou que não posso tocar porque estão muito próximas

teu olhar mais leve facilmente me descerra
embora eu me tenha fechado como dedos, 
e me entreabres sempre, pétala por pétala, como a Primavera 
(por toques habilidosos, misteriosamente) ante a primeira rosa 

ou se teu desejo é me fechar, eu e
minha vida nos fecharemos formosa e rapidamente 
como quando o coração desta flor imagina 
que a neve — cuidadosamente — está caindo em toda a parte; 

nada do que podemos perceber neste mundo se compara
ao poder de tua imensa fragilidade: cuja textura 
me compromete com a cor de seus países 
e me entrega para sempre a morte cada vez que respiro 

(nada sei do que te faz tão poderosa
ao me mover; mas algo em mim compreende apenas 
que a voz de teus olhos é mais profunda que todas as rosas) 
ninguém, nem mesmo a chuva, tem as mãos assim tão pequenas.

tradução de Jorge Wanderley

22 de fev. de 2012

Flamboiã, acacia rubra, flor de pavão, Mil flores, árvore de fogo







Delonix regia
Familia: Caesalpiniaceae Fabaceae Leguminosae
árbol de fuego (Spanish), flamboyán (Spanish), flamboiã (Portugues Brazil)). 
Spanish (Acacia roja, clavellino, flamboyán, flor de pavo, framboyán, guacamaya, josefina, Morazán, poinciana), Tamil (mayarum, mayirkonrai, panjadi, telugu), Thai (hang nok yung farang), Trade name (gold mohar), Vietnamese (phuong), Yoruba (sekeseke).
Amharic (dire dawa zaf), Arabic (goldmore), Bengali (chura, radha), Burmese (seinban), Creole (poinciana royal), German (fammenßaum, Feuerbaum), Hindi (gulmohr, kattikayi, peddaturyl, shima sunkesula),
(Fiji): flamboyante. (Madagascar): alamboronala, hintsakinsa, kitsakitsabe, sarongadra, tanahou, tsiombivositra, hitsakitsana. (Niue): pine. Hindi: gulmohar. Sinhalese (Sri Lanka): mal-mara. Tamil: mayaram, poo-vahai. Unspecified language: fannou, flanbwayan, mille fleurs, ohai, rojo, sekoula, tabach, voulatzana.

Votos de submissão de Fernanda Young

Caso você queira posso passar seu terno,
aquele que você não usa por estar amarrotado.
Costuro as suas meias para o longo inverno...
Use capa de chuva, não quero ter você molhado.
Se de noite fizer aquele tão esperado frio
poderei cobrir-lhe com meu corpo inteiro.
E verás como a minha pele de algodão macio,
agora quente, será fresca quando for janeiro.
Nos meses de outono eu varro a sua varanda,
para deitarmos debaixo de todos os planetas.
O meu cheiro te acolherá com toques de lavanda
- Em mim há outras mulheres e algumas ninfetas -
Depois plantarei para ti margaridas da primavera
e aí no meu corpo somente você e leves vestidos,
para serem tirados pelo seu total desejo de quimera.
- Os meus desejos, irei ver nos seus olhos refletidos.
- Mas quando for a hora de me calar e ir embora
sei que, sofrendo, deixarei você longe de mim.
Não me envergonharia de pedir ao seu amor esmola,
mas não quero que o meu verão resseque o seu jardim.


(Nem vou deixar - mesmo querendo - nenhuma fotografia.

Só o frio, os planetas, as ninfetas e toda a minha poesia.)



In Dores do Amor Romântico

20 de fev. de 2012

Ser poeta de Florbela Espanca

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

19 de fev. de 2012

Orquídeas Laelia







Lælia (em português: Lélia) é um pequeno gênero de orquídeas (família Orchidaceae) com vinte espécies.. São endêmicas desde o México até a América do Sul. Etimologia: O nome deste gênero (L.), foi dado em homenagem a "Lælia” , uma das vestais (sacerdotisas que cultuavam a deusa romana Vesta) , ou ainda em homenagem ao sobrenome "Lælius", da antiga família romana à qual pertenceram alguns imperadores.


O gato e o pássaro :: Jacques Prévert

O gato e o pássaro Uma cidade escuta desolada O canto de um pássaro ferido É o único pássaro da cidade E foi o único gato da cidade Que o de...