22 de ago. de 2012

Nadir da Costa - Pintora




































Nadir da Costa
Nasceu em Aquidauana, MS, em 1944, mudando-se para o Rio de Janeiro aos 16 anos, onde estudou no que hoje é a Escola do Parque Lage. Foi depois para Campinas, onde estudou com Bernardo Caro e Biojone e aperfeiçoou seus estudos em Nova York. Possui um estilo figurativo romântico, onde sobressai uma poética profundamente feminina.
fonte:  http://www.galeriabrasiliana.com.br/conteudo/index.php?option=com_easygallery&act=categories&cid=29&Itemid=99999999



E eu estou no mundo solta e fina como uma corça na planície de Clarice Lispector




E eu estou no mundo solta e fina como uma corça na planície. Levanto-me suave como um sopro, ergo minha cabeça de flor e sonolenta, os pés leves, atravesso campos além da terra, do mundo, do tempo, de Deus. Mergulho e depois emerjo, como de nuvens, das terras ainda não possíveis, ah ainda não possíveis. Daquelas que eu ainda não soube imaginar, mas que brotarão. Ando, deslizo, continuo, continuo... Sempre, sem parar, distraindo minha sede cansada de pousar num fim. – Onde foi que eu já vi uma lua alta no céu, branca e silenciosa? As roupas lívidas flutuando ao vento. O mastro sem bandeira, ereto e mudo fincando no espaço... tudo à espera da meia-noite... – Estou me enganando, preciso voltar. Não sinto loucura no desejo de morder estrelas, mas ainda existe a terra. E porque a primeira verdade está na terra e no corpo. Se o brilho das estrelas dói em mim, se é possível essa comunicação distante, é que alguma coisa quase semelhante a uma estrela tremula dentro de mim. Eis-me de volta ao corpo. Voltar ao meu corpo. Quando me surpreendo ao fundo do espelho assusto-me. Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma. Quando me surpreendo ao espelho não me assusto porque me ache feia ou bonita. É que me descubro de outra qualidade. Depois de não me ver há muito quase esqueço que sou humana, esqueço meu passado e sou com a mesma libertação de fim e de consciência quanto uma coisa apenas viva. 
in Perto do Coração Selvagem, p. 78

21 de ago. de 2012

Sivuca - O Poeta do Som. Sivuca e Orquestra Sinfônica da Paraíba - Feira de Mangaio (Sivuca/Gloria Gadelha)

http://www.youtube.com/watch?v=EsZ_Jy0q_V8

Como andar nas pedras, por Luis Fernando Veríssimo


foto: Rafael Souza
As casas e os sobrados antigos de Parati muitas vezes são fachadas para belos interiores modernos. Você literalmente pula de século quando entra por uma das suas portas. O mesmo não acontece com as ruas da zona histórica, que continuam como eram nos séculos 18 e 19, calçadas com pedras irregulares de vários tamanhos que obrigam o pedestre a andar com muito cuidado. É perigoso pisar desatento no passado, ainda mais depois de uma certa idade.
(...) O calçamento das ruas do centro histórico foi feito na forma de calha rasa, sendo a parte mais baixa o eixo central da rua. Neste foram usadas pedras mais compridas e uniformes e mais alinhadas do que as outras. São as capistranas, que formam uma espécie de trilha à prova de tropeções. Pelo menos para nós, os iniciados.
E não deixa de haver uma certa justeza poética no fato de alguns dos maiores escritores do mundo terem que andar de pedra em pedra, escolhendo as mais aparentemente firmes e seguras e evitando as mais traiçoeiras. De certa maneira, é o que eles fazem quando escrevem. Vão escolhendo as palavras certas para chegar onde querem, evitando a queda e o vexame publico. Parati, para quem anda pelas suas ruas, também é um exercício de estilo.
fonte: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2012/07/12/como-andar-nas-pedras-por-luis-fernando-verissimo-455035.asp

19 de ago. de 2012

18 de ago. de 2012

Presente de Antonio Cícero

Sophie Jourdan

Por que não me deitar sobre este
gramado, se o consente o tempo,
e há um cheiro de flores e verde
e um céu azul por firmamento
e a brisa displicentemente
acaricia-me os cabelos?
E por que não, por um momento,
nem me lembrar que há sofrimento
de um lado e de outro e atrás e à frente
e, ouvindo os pássaros ao vento
sem mais nem menos, de repente,
antes que a idade breve leve
cabelos sonhos devaneios,
dar a mim mesmo este presente?

17 de ago. de 2012

Sonhar de Mia Couto

Olhos baixos, o médico escutou tudo, sem deixar de escrevinhar num papel. Aviava já a receita para poupança de tempo. Com enfado, o clínico se dirigiu ao menino:

— Dói-te alguma coisa?

—Dói-me a vida, doutor.

O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreendera. Já Dona Serafina aproveitava o momento: Está a ver, doutor? Está ver? O médico voltou a erguer os olhos e a enfrentar o miúdo:

— E o que fazes quando te assaltam essas dores?

— O que melhor sei fazer, excelência.

— E o que é?

— É sonhar.

fonte: Couto, Mia. O fio das missangas. Cia. das Letras, 2004, pág. 131.

16 de ago. de 2012

Catrin Welz-Stein - artista suiça










Congea tomentosa




foto: Mauricio Mercadante




Origem: Ásia, Birmânia, Índia, Malásia,Tailândia
Altura: 4.7 a 6.0 metros
Luminosidade: Sol Pleno
Ciclo de Vida: Perene
A congéia é uma trepadeira de ramagem lenhosa, ramificada, conhecida no mundo todo devido ao seu florescimento decorativo. Suas folhas são elíptico-ovaladas, opostas, tomentosas (pilosas), perenes, de cor verde clara e com nervuras bem marcadas. No fim do inverno e início da primavera a congéia floresce, exibindo numerosas flores brancas, pequenas e discretas, mas cada uma circundada por três brácteas em forma de hélice, muito vistosas e duráveis, que mudam de cor gradativamente, do rosa para o roxo e posteriormente para o cinza, ao longo de várias semanas. A floração é tão densa e abundante que mal se pode ver a folhagem.

A congéia é uma trepadeira muito vigorosa e exuberante, com textura delicada. Apesar de tropical, ela se encaixa em diferentes estilos de jardins, e pode cobrir cercas, grades, caramanchões, pérgolas, pórticos e coroar muros. Também pode ser conduzida como arbusto e cerca-viva. As podas, realizadas após o florescimento, auxiliam na formação e contenção da planta e estimulam seu adensamento. Os ramos floridos da congéia podem ainda ser utilizados como flor-de-corte em buquês e arranjos florais.

Deve ser cultivada sob sol pleno, em solo fértil, enriquecido com matéria orgânica e irrigado periodicamente. Para plantio em renques se recomenda a distância mínima de um metro entre as plantas. Trepadeira tipicamente tropical, aprecia o calor e não tolera geadas ou nevascas. Em países de clima temperado deve ser protegida no inverno em estufas. Multiplica- se por estaquia ou alporquia, após o florescimento, ou por sementes.
http://www.jardineiro.net/plantas/congeia-congea-tomentosa.html

À maneira de Szymborska de Berta Piñan


Chegados a este ponto
talvez tudo devesse ser mais simples,
a palavra lua não deveria nomear nada mais
do que a lua,
e os rios deveriam seguir até ao seu destino
sem serem alterados
pelas metáforas.
Talvez a palavra solidão não devesse
significar outra coisa além da ausência
de acontecimentos
e a palavra silêncio pudesse servir só
para calar os ruídos.

Com a língua talvez tudo devesse ser

mais simples, sem voltas

nem requebros, deixando-nos
com duas ou três questões
para seguir em frente:
um porquê, algum não sei.
E, depois, fechar a porta
que, neste caso,
deveria significar unicamente
fechá-la.


(Versão a partir do original asturiano e da tradução castelhana da autora reproduzidos em Toma de tierra - poetas  en lengua asturiana: antología (1975-2010); selecção de José Luis Argüelles, Trea, Gijón, p. 445).

15 de ago. de 2012

Valsa do adeus de Hélio Pellegrino


Tudo é partida de navio, velas
ao vento, coisas desancoradas
que se desgarram. Este copo, esta pedra
que pronuncio não são palavras, nem
versos de amor, nem o sopro
vivificante do espírito. São barcos
arrastados pelo tempo, cascas
de fruta na enxurrada, lenços
de adeus, enquanto o vapor se afasta,
e de longe ilumina essa ausência que somos.

Campo com ovelhas


14 de ago. de 2012

Rondel de Samuel Beckett




pela praia fora 
ao final do dia 
só som de passos 
longo som só 
que inesperado fica 
som nenhum depois 
pela praia fora 
longo som nenhum 
que inesperado parte 
só som de passos 
longo som só
pela praia fora 
ao final do dia

1976

13 de ago. de 2012

Abalone




Abalones, são conhecidos também como orelhas do mar, senhoritas, seis olhos, orelhas de vênus.

Se tudo pode acontecer Arnaldo Antunes, Paulo Tatit, Alice Ruiz e João Bandeira

Se tudo pode acontecer 
Se pode acontecer 
qualquer coisa 
um deserto florescer 
uma nuvem cheia não chover 

Pode alguém aparecer 
e acontecer de ser você 
um cometa vir ao chão 
um relâmpago na escuridão 

E a gente caminhando 
de mão dada 
de qualquer maneira 
eu quero que esse momento 
dure a vida inteira 
e além da vida 
ainda de manhã 
no outro dia 
se for eu e você 

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...